Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

quarta-feira, novembro 30

Verão & Inverno

Com a chegada do Inverno a cidade torna-se mais desconfortável. As filas de trânsito agravam-se, a chuva torna os prédios mais feios, o frio escurece ainda mais um ambiente já de si negro (apesar da luz imbatível de Lisboa), a cidade fecha-se em si. E é nestas alturas que o apelo do campo é maior.

O cheiro da terra molhada, as trovoadas impressionantes no meio do campo, que de tão perigosas fazem subir a adrenalina ao máximo, o frio que puxa para as lareiras gigantes e para a modorrinha que nos adormece, as sopas confeccionadas com os produtos da horta que fica ali a meia dúzia de passos e que são ainda mais saborosas no Inverno, e ainda a esperança de neve…

E as saudades do Verão são de certa forma suavizadas, com as memórias da beira-mar, dos mergulhos infinitos e do sol quente a invadir-nos o corpo.

sábado, novembro 26

Nós só não nos damos conta do que não queremos

«- Parece-me que há algo de turvo na tua compaixão. Nós só não nos damos conta do que não queremos. Há quem passe pela vida sem que nada o afecte, com a cabeça cheia de certezas, esgrimidas até à exasperação, para impedir uma ligação com o mundo real. E o pânico de existir manifesta-se sempre com tanta ignomínia...! Quanto maior a obstinação, maior o perigo!
- Mas como eu vivia bem sem me dar conta de certas coisas!
- Quando eras criança, queres tu dizer.
- Não sei porquê!?
- Por quereres que a vida se submeta aos teus caprichos e tudo funcione a teu bel-prazer.»

Madrid me mata

Tu és vegetariano?

« - Tu és vegetariano?
- Não, mas evito comer carne desnecessariamente. O que sou é partidário de uma relação equilibrada com o físico.
- O chamado culto do corpo.
- É algo mais transcendente que uma simples necessidade estética. O corpo serve-nos de instrumento para comunicarmos com o exterior, para que tenhamos noção de nós mesmos. Aprender a relacionarmo-nos com a pele, com os músculos, com os ossos, com os órgãos, ajuda-nos a apreender a dimensão do transcendente.
- Nunca me tinha ocorrido.»

Madrid me mata

terça-feira, novembro 22

Não aos comentários anónimos

Dei por mim a pensar nos comentários anónimos que se encontram nos blogs. Normalmente são palavras destrutivas, amargas, de quem não quer assumir o que diz, de quem se esconde sob a capa do anonimato. Porque quem não tem medo de dizer o que pensa dá a cara e não foge.

Como dizia um dos intervenientes no último «Clube dos Jornalistas», na 2:, os anónimos não têm direito a opinião. Os nossos pais conquistaram a liberdade de expressão, conseguiram o fim da censura e a expressão aberta de opiniões e ideias. Como diriam os Da Weasel, pelos vistos existem ainda «uns quantos bacanos a mais» que não perceberam a vitória que é poder dizer o que se quer, assumindo-o com todas as letras.

Não aos comments anónimos.

Crime contra a Humanidade

Deixo aqui o link para um documento sobre a perseguição à minoria religiosa mais significativa do Irão, os Bahá'ís. Para reflectir sobre este crime contra a Humanidade, 60 anos depois dos julgamentos de Nuremberga.

http://www.bahai.org.br/portasfechadas

sexta-feira, novembro 18

O frio refrescante da manhã

Gosto quando o frio refrescante da manhã me beija a cara recém-barbeada. Recorda aquele velhinho anúncio do Old Spice, em que um bravo navegante luta para equilibrar o seu barco no meio do mar revolto.

Recordar tempos antigos numa colher de marmelada

É bom chegar a casa e ter à espera a marmelada caseira da tia. A tradição familiar faz lembrar tempos antigos nas velhas casas da Beira Baixa e aquela receita especial que tão bem sabe.

Desperdício?

E continuando no sector da Saúde, no outro dia vi uma reportagem na TVI sobre o estado do sector em Portugal. Sobre um dos casos retratados uma das médicas argumentava: «Já era sexta-feira. Ele não estava à espera de ser operado no fim-de-semana certo?» Isto porque o nosso Serviço Nacional de Saúde, com as listas de espera que se lhe conhecem, não realiza operações ao fim-de-semana... Eficaz não?

Saber gerir...

E estalou mais uma polémica com este governo, que parece estar a ficar perito nestas situações. Desta vez é o boomerang de palavras entre o ministro da Saúde, Correia de Campos, e o sector. Correia de Campos vem dizer que há médicos, enfermeiros e administrativos a mais e vai portanto saneá-los, nomeadamente do maior hospital do país, Santa Maria, em Lisboa.

A mais não estarão; o que acontece é que para fazer o trabalho de 4000 profissionais, 2000 fazem horas extra e esforçam-se sobrehumanamente para que os outros 2000 possam descansar e não cumprir as suas tarefas, por incompetência e má gestão e «cumprir horário» (como tanto gostam de apregoar). E sendo assim, parece-me correcto que estes 2000 (números hipotéticos) vão para a rua, desde que coloquem número proporcional de pessoal eficiente no lugar destes. Saber gerir pessoas é o que falta é o que falta a Portugal.

domingo, novembro 13

Terapia para as almas

Hoje foi um dia diferente. Em vez de ser dedicado à recuperação da noite sempre longa e agitada de sábado para a complicada segunda-feira que se avizinha, acordei bem cedo e fui às praias que mais gosto.

Ainda antes das 11h já estava a caminho da escondida Praia da Ursa, em Sintra. A Marginal, com a luz especial que só Lisboa tem, o mar revolto a beijar a estrada, a espuma no horizonte lembrando baleias, a areia no alcatrão na zona do Guincho, seguindo o caminho serpenteante depois da Malveira até ao Cabo da Roca.

Ultrapassado o caminho todo-o-terreno para chegar à falésia eis que a Praia da Ursa mais os seus rochedos plantados no mar apresenta-se em toda a sua grandiosidade esmagadora. A terra verdadeiramente ali acaba e o mar começa. Somos apenas nós, insignificantes e pequenos, perante o poder das ondas e do céu.

Com Sintra para trás, rumo ao Meco, provavelmente a praia mais bonita de Portugal. Praia vazia em dia de vendaval, a sensação de poder num areal tão vasto é verdadeira e real.

A melhor terapia para as almas é sem dúvida o contacto com a Natureza, especialmente aquela que se encontra no seu estado quase selvagem.

O brilho dos 70

Ontem estive a conversar largos minutos com uma senhora de Setúbal que esteve a relatar-me entusiasmada a nova etapa da sua vida.

Mudou de casa, começou a pintar, está num coro, escreve poemas, faz ginástica... e tudo, diz a Dona Susete com os olhos a brilhar, «depois dos 70 anos! Nunca pensei».

Porque a reforma e a idade não são sinónimo de ficar em casa a lamuriar-se.

Piada foleira

Piada foleira:

O novo cartaz de Mário Soares diz que o candidato (ainda) consegue ouvir or portugueses.

quarta-feira, novembro 9

Parabéns Chapitô

«Teresa Ricou recebe hoje, pelo Chapitô, o Prémio Silver Rose, atribuído pela Solidar, uma aliança de organizações não governamentais ligadas à cooperação internacional e à ajuda humanitária.
O Prémio Silver Rose "celebra os feitos pessoais e de organizações activas na luta pela justiça social", de acordo com a organização.»

in www.publico.pt

Parabéns ao Chapitô e à Tété por terem feito do Chapitô um espaço de magia, de igualdade e de fantasia. Este prémio de justiça social é mais que justificado por todas as actividades que a cooperativa Chapitô tem levado a cabo, na área da Cultura, da formação à divulgação, mas também na área do Humanismo e da Ajuda àqueles que mais necessitam.

E na vertente da diversão uma noite no Chapitô é ímpar. A começar pela localização, encavalitado perto das muralhas do Castelo de S. Jorge, com vista deslumbrante para o Tejo e para a Praça do Comércio, passando pelo chouriço assado no barro ou pelas insuperáveis tostas de mozzarella, e terminando nos espectáculos.

As peças de teatro do Chapitô são quase sempre excepcionais, divertidas, inesperadas, avant-garde. Recordo ainda um sketch inspirado no Moulin Rouge, em que dois alunos do Chapitô recriaram o Roxanne em cima de um trapézio, com o céu estrelado de Lisboa por cenário. Ou ainda as memoráveis festas dos anos '80, com música e indumentárias a relembrar os saudosos anos da Chiclete e dos Táxi, dos Duran Duran e dos The Cure.

Parabéns Chapitô.

domingo, novembro 6

Se os teus olhos...

«Se os teus olhos fossem da cor dos meus,
Se a tua boca tivesse o mesmo paladar que o meu,
Se quando chove a água não batesse nos teus ombros,
Se tu sentisses o mesmo que eu,
Se o teu cabelo inspirasse o meu perfume,
Se as ondas do mar fossem iguais aos teus caracóis,
Seria um mundo perfeito!»

Um pequeno poema escrito pela minha amiga Inês. E como é bom ler coisas assim, e ainda melhor seria ter quem nos diga coisas assim...

Perseguição a minoria religiosa no Irão

Os Bahá'ís, a minoria religiosa mais numerosa no Irão, têm sofrido perseguições e segregações desde a Revolução Islâmica no país em 1978 e a instauração do regime dos ayatollahs (chefes religiosos). Os Bahá'ís têm sido sequestrados, torturados, assassinados, os seus bens confiscados, o acesso à Educação é negado, enfim, está em marcha uma campanha para a exterminação daqueles que professam uma religião que não o Islão.

Aqui fica um pequeno relato de um exemplo tragicamente real.

"Poucos incidentes são mais chocantes – ou reveladores do preconceito religioso da perseguição aos Bahá’ís e da coragem com a qual a enfrentam – do que o acontecido com um grupo de dez mulheres Bahá’ís enforcadas em Shiraz, Irão, em 18 de Junho de 1983. O seu crime: ensinar aulas religiosas a crianças Bahá’ís.

Com idades compreendidas entre os 17 e os 57 anos, as dez mulheres Bahá’ís foi levadas à forca sucessivamente. Aparentemente, as autoridades esperavam que à medida que vissem as suas companheiras no lento estertor da morte, as mulheres renunciariam a sua fé.

No entanto, de acordo com testemunhas presentes, as mulheres aceitaram o seu destino cantando, como se estivessem a apreciar o seu destino com prazer.
Um dos homens presentes confidenciou a um Bahá’í: «Tentámos salvar as suas vidas até ao último momento, mas, uma por uma, primeiro as mais velhas, depois as mais novas, foram enforcadas enquanto as outras eram forçadas a assistir, com isto tentando que negassem as suas crenças. Até chegámos a incitá-las a declararem que não eram Bahá’ís, mas nenhuma delas o aceitou; preferiram a execução.»

Cada uma das dez mulheres foi interrogada e torturada nos meses que precederam a sua execução. De facto, algumas apresentavam feridas visíveis nos seus corpos quando estavam na morgue, após o enforcamento.

A mais nova destas mártires era Muna Mahmuddnizhad, uma estudante de 17 anos que dada a sua juventude e envolvente inocência tornou-se, de certa forma, no símbolo do grupo. Na prisão, as solas dos seus pés foram vergastadas, tendo Muna sido obrigada a caminhar em sangue. Porém, nunca renegou a sua fé, chegando mesmo a beijar as mãos daquele que a executou, e depois a corda da morte, antes de colocá-la em volta do seu pescoço.

Outra jovem mulher, Zarrin Muqimi-Abyanih, 28 anos de idade, disse aos interrogadores que a instigavam a que renunciasse a sua fé: «Aceitem ou não, eu sou uma Bahá’í. Não podem tirar isso de mim. Sou uma Bahá’í em toda a minha existência e com todo o meu coração».

Durante o julgamento de outro dos membros deste grupo, Ruya Ishraqi, uma estudante de Veterinária, o juiz declarou: «Vocês colocaram-se perante esta agonia apenas por uma palavra: basta dizeres que não és Bahá’í e eu libertar-te-ei». Ruya respondeu: «Não trocaria a minha fé pelo mundo inteiro.»

As outras mulheres executadas a 18 de Junho de 1983 foram Shahin Dalvand, 25 anos, socióloga, Izzat Janami Ishraqi, 57 anos, doméstica, Mahshid Nirumand, 28 anos, que se tinha candidatado a uma licenciatura mas tinha sido recusada por ser Bahá’í, Simin Sabirim 25 anos, Tahirih Arjumandi Siyavushi, 30 anos, enfermeira, Akhtar Thabit, 25 anos, também enfermeira, Nusrat Ghufrani Yalda’í, 47, membro do Conselho Nacional Bahá’í.

Todas haviam sentido como seu dever ensinar aulas religiosas Bahá’ís – sobretudo depois do Governo iraniano ter barrado o acesso de crianças Bahá’ís às escolas estatais."

Save the last dance for me

You can dance-every dance with the guy
Who gives you the eye, let him hold you tight
You can smile-every smile for the man
Who held your hand neath the pale moon light
But don't forget who's takin' you home
And in whose arms you're gonna be
So darlin' save the last dance for me

Oh I know that the musics fine
Like sparklin' wine, go and have your fun
Laugh and sing, but while we're apart
Don't give your heart to anyone
But don't forget who's takin' you home
And in whose arms you're gonna be
So darlin' save the last dance for me

Baby don't you know I love you so
Can't you feel it when we touch
I will never never let you go
I love you oh so much

You can dance, go and carry on
Till the night is gone
And it's time to goIf he asks if you're all alone
Can he take you home, you must tell him no
'Cause don't forget who's taking you home
And in whose arms you're gonna be
So darling, save the last dance for me

'Cause don't forget who's taking you home
And in whose arms you're gonna be
So darling, save the last dance for me
Save the last dance for me
Save the last dance for me.

Michael Bublé

Perder alguém

«Perder alguém é como ser ferido por um estilhaço de granada - disse eu - quando um bocado de metal fica preso num sítio onde os cirurgiões não podem chegar e decidem deixá-lo ficar. A princípio é uma dor atroz e a pessoa não acredita que possa sobreviver. Depois o corpo envolve o corpo estranho e ele deixa de ferir. Pelo menos não dói tanto como dantes. Mas de vez em quando vem de repente uma picada e compreendemos que ele ainda lá está e vai sempre estar. Faz parte de nós. Uma ponta dura e afiada cá dentro.»

Último acto em Lisboa, Robert Wilson