Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

domingo, novembro 26

Maria da Paz

Depositado na esteira de palha o corpo resiste, num tremor contínuo. Gotículas de suor cobrem a pele, juntando-se na base das costas num rio que ruma em direcção ao chão. Os olhos fechados denunciam o alheamento da realidade e a presença numa dimensão exterior. Na parede, os contornos do paciente desenham as pedras rudes de granito, recortados pelas chamas da lareira que crepita no centro da sala.

De costas, o xaile negro contrasta com os cabelos brancos apanhados num carrapito no alto da cabeça. Pelos movimentos rápidos e firmes percebe-se que umas mãos hábeis estão em pleno processo de trabalho. Uma brisa acre invade o ambiente e luta com o cheiro a folha de eucalipto que arde por entre os toros gigantes de pinheiro. Os olhos azuis brilhantes de safira estão rodeados de rugas. São sulcos de sabedoria milenar, riscos vincados de experiência de vida. Tac tac tac, num piscar de olhos a velha senhora corta ervinhas, junta-lhes unguentos, macera seivas, esmaga sementes e mistura raízes. Num pequeno recipiente de pedra coloca o preparado e mexe com um ramo de oliveira seco e velho, bifurcado na ponta.

O doente começa a tossir e a debater-se no catre. Maria da Paz, assim se chama a nossa médica, empurra o nosso doente, vamos agora apropriar-nos da estória, e vira-o. Nas costas esfrega a poção três vezes, duas para cima e uma para baixo. Deixa actuar e em seguida limpa com um lençol imaculado de linho. Repete o processo também três vezes. É um número sagrado, o três, o número da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho, o Espírito Santo.

«Agora dorme e descansa». Antes de a nossa médica pronunciar a última palavra já o nosso doente entrara em estado de vigília. Maria sai da casa e embrenha-se na floresta. Está noite de lua cheia e o breu dá lugar à luz. Depois de caminhar cerca de dez minutos alcança uma clareira. No centro, como se desde todo o sempre ali estivesse à sua espera, uma flor negra baila ao sabor da brisa nocturna. Aproxima-se, cautelosa, em espírito de adoração. Ajoelha-se e ali permanece, imóvel, até ao raiar do sol.

De manhã vamos encontrar Maria deitada no solo, com as mãos entrelaçadas e um sorriso rasgado no rosto. Acorda, levanta-se e dirige-se para casa, onde o catre está vazio, sinal de que a cura teve efeito. Mais tarde virá um outro alguém. Sempre vem.

Maria, que o povo conhece como a curandeira da terra, é médica. Não a médica que imaginamos, de bata branca ou azul, conforme as ocasiões, a correr pelos corredores do hospital. Não a médica que nos habituámos a ver nas séries de televisão, a debitar nomes técnicos e estranhos, a trabalhar no corpo como se de uma linha de montagem se tratasse.

De geração em geração estas mulheres são extensões da Natureza, conhecem-na como ninguém e dela sabem retirar o que querem. Mézinhas, xaropes, preparados, unguentos, esta medicina milenar é a base do que hoje encontramos nas farmácias, em embalagens mais ou menos coloridas, em comprimidos ou líquidos assépticos que mais não são que ervas, seivas, sementes e raízes.

sexta-feira, novembro 24

Escrever

Escrever. Escrever um texto, uma prosa, um poema, um artigo, uma crónica, um guião, um perfil, uma entrevista. Escrever.

Escrever acalma-me, permite-me voar, levar a imaginação para outros lados, ser quem quero, onde quero, como quero e com quem quero. Criação e recriação da realidade da vida. Já dizia o Palma: «no mundo dos sonhos podes ser quem quiseres».

Em muitas ocasiões escrevo num ápice. As palavras saem aos borbotões, mais depressa que os movimentos da mão, como uma queda d'água imparável e avassaladora. Mas noutras alturas estou muitas vezes em frente ao papel ou ao ecran, olhos fixos algures, a mastigar o que escrever. Desenho a letra, componho a palavra, construo a frase e depressa apago tudo. Volto atrás em busca do sentido ou de novas ideias. Vou rever o que escrevi, apago ou corrijo repetições e, como sou disléxico na escrita, há sempre uma palavra ou outra que faltam. Normalmente nunca bloqueio nem sou assaltado pelas temíveis «brancas», e igualmente nem sempre tudo sai à primeira, limpinho e sem espinhas.

Enfim, quando estou a escrever sinto que estou a lapidar um diamante (sem pretensões ou ilusões que o que redijo seja uma pedra preciosa), a esculpir um bloco de mármore ou a dar forma a uma peça de madeira. Estou a tentar puxar, evidenciar e pôr cá fora algo que possa estar escondido numa capa mais tosca ou num velado esconderijo.

F1

Nos últimos dias, onde quer que me sente, sobretudo na cadeira do escritório, dou por mim a querer apertar o cinto de segurança. Andarei de novo a pensar demasiado em ser piloto de F1?

quarta-feira, novembro 22

Meditação

Ao olhar o horizonte, a serra a recortar o céu, pensou:

De tanto chorar afoguei-me nas minhas próprias lágrimas.

Chasing Cars

We'll do it all
Everything
On our own

We don't need
Anything
Or anyone

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?

I don't quite know
How to say
How I feel

Those three words
Are said too much
They're not enough

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?

Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life

Let's waste time
Chasing cars
Around our heads

I need your grace
To remind me
To find my own

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?

Forget what we're told
Before we get too old
Show me a garden that's bursting into life

All that I am
All that I ever was
Is here in your perfect eyes, they're all I can see

I don't know where
Confused about how as well
Just know that these things will never change for us at all

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?

Snow Patrol

sábado, novembro 11

A casa

Por entre as portadas brancas, já lascadas pelo sol e pelo vento, a praia abria-se, enorme, vasta, a perder de vista. Quem diria, já que em seu redor tudo eram falésias gigantescas, rochedos impenetráveis e um embrenhado labiríntico de chorões. Quem diria, repito, que no meio daquela selva se pudesse esconder um segredo tão grande que pelas suas dimensões não saltasse à vista.
Cá dentro reinava o silêncio. O sussurrar das ondas ecoava pelas paredes nuas, a leve brisa enfolava os cortinados como se fossem fantasmas. Uma cadeira de madeira, de palhinha, feita à mão, era o único objecto no meio da sala. Vazia, simbolizava também o vazio daquela casa em que desde há muitos anos apenas o arrastar pesado e preguiçoso dos pés do seu único habitante ressoava no solo. As portadas estavam fechadas. As portadas estavam sempre fechadas. Mas que importava se ele não abria os olhos desde aquele dia? As pálpebras, da falta de uso, estavam coladas ao rosto, pelo que ele habituara-se ao seu individual e original sistema de movimentos e deambulações pelos dois andares da casa.
Lá fora, junto ao mar, vestido de branco como uma múmia, ele apontava os olhos ao horizonte. No seu óculo interior via ondas de coral e peixes de ouro. Numa das encostas do mundo marinho ela estava sentada num trono de espuma a comer algodão doce com sabor a maracujá. Porque te foste embora, pensava ele.
Desde esse dia nunca mais abrira os olhos, se calhar para evitar as lágrimas. Dessa forma as comportas das pálpebras evitavam o rebentamento dos diques da alma. Por vezes pensava, Mas que disparate? Para quê chorar por alguém? Qual a razão que me leva a abdicar de viver por outro ser de carne e osso como eu? Tinha dias de euforia, em que prometia a si mesmo que na manhã seguinte abriria os olhos e nasceria de novo. No entanto, com a chegada incómoda da noite, toda a vontade se desvanecia como um dente de leão ao vento. E nesta intermitência ele vivia.
Todas as noites, cara encostada à almofada, pensava na sua vida até esse ponto. E a imagem era sempre a mesma: blocos de construção de madeira, verdes, vermelhos, azuis e amarelos, a empilharem-se sozinhos até ao topo. E quando faltava apenas o bloco final o desmoronamento, inevitável, precipitava a sua vida de novo para um turbilhão de ondas. Na pele sentia os cabelos enrodilharem-se nas orelhas, nos olhos, no nariz e na boca, como um colete de forças que, lentamente, apertava e tolhia os seus movimentos.
Lá longe rugiu um trovão. E outro. E mais outro. Os relâmpagos não os via, claro, mas sabia que lá estavam. Pressentia-os. Começou a contar os segundos entre cada grito dos céus. 15. 14. 13. 12. 11. 10. Estava a aproximar-se. As trovoadas eram comuns naquela zona e já não causavam o receio de antes. As pernas já não tremiam e o coração já não ameaçava rasgar a carne e saltar do peito. Após alguns minutos, com o corpo ensopado e a roupa colada ao corpo, ele dirigiu-se para casa.
As setas de água lá fora riscavam a areia e faziam desenhos ondulantes. Diante da fogueira, no panelão gigante, aquecia a sua sopa, onde massinhas boiavam contra feijões encarnados. Fumegante. Sentia-se seguro e feliz. Porque não era sempre assim, dizia de si para si mesmo? Porque não me basta isto? Porque não consigo apagá-la?
--*--
O dia amanheceu silencioso, depois da tempestade que varreu a praia durante a noite anterior. O sol, que tinha fugido tímido e cobarde quando os trovões chegaram sem pedir licença há umas horas atrás, quase explodia agora de tanto calor e energia, como que a tentar redimir-se. O mar estava plácido. Sem ondas. As árvores e os chorões estavam adormecidos, depois da agitação nocturna, e tempo parecia parado. Mas o pêndulo do relógio do andar de baixo da casa dizia que não, que a vida continuava o seu caminho, constante e imparável.
Deitado num velho colchão ao canto da sala, o despertar dele não era igual ao despertar de todos nós. Os olhos selados não se abriam pela manhã, as portadas não eram abertas para dizer bom dia ao mundo e as pálpebras não eram esfregadas com água para acordarem de vez. É hoje que vou abrir os olhos, é hoje e basta de disparates, disse em voz alta, para ser mais convincente consigo mesmo.
Saiu para a praia e dirigiu-se à floresta, o seu frigorífico e sala de refeições improvisados, já que praticamente só comia frutos. De vez em quando pescava e assava o peixe na brasa. Enquanto escolhia a maçã mais vermelha da árvore sentiu um piparote na cabeça. Era um côco. Não ligou. Passado um minuto outro, e mais outro, e mais outro. Percebeu que alguém andava ali a divertir-se às suas custas. Há anos que não via outro ser humano. E não era por não abrir os olhos, mas sim porque de facto nenhum ali havia ido antes. Que se passa aí, gritou. Resposta: uma laranja pequenina no meio da testa. De cara fechada deu meia volta e foi-se embora. Ei! Espera aí, ouviu. Parou alguns segundos e depois seguiu caminho. Não sejas mal-disposto, disse, com tom trocista, a voz. Que queres? Quero que abras os olhos e me vejas. Impossível! Não quero e não vou abrir os olhos só porque tu queres. Adeus. E começou a correr rumo à praia. A voz seguiu-o. Porque és tão idiota, perguntou. Quem és, foi a resposta perguntada. Sou aquela que não queres ver. E desapareceu.
--*--
Passaram-se dias e dias, cada um igual ao anterior e semelhante ao seguinte. Naquele lugar secreto o sol e a lua marcavam a hora, ao mesmo tempo que o estado de espírito dele era pautado pelos dois astros. De dia, ele era sol, cheio de vida e felicidade. Sentia-se um soldado na frente de batalha, diante do inimigo, imbatível e vencedor. De noite, ele era lua. Soturno, negro, apagado. Sentia-se mínimo perante tudo e recordava-se da época em que, perante todos, ainda mais pequeno era. Tratava-se de uma batalha que ele não conseguia decidir. Sol versus Lua, Diabão vermelho versus Anjinho branco, Esquerda versus Direita, Norte versus Sul, tudo entretido a fazer o jogo do empurra.
Passos. Lá em baixo alguém corria a alta velocidade, batendo com as janelas e dando pontapés nas portas. Acorda, acorda de uma vez e pára de sentir pena de ti próprio, gritava uma voz. Achas que cobrindo-te de agruras, fechando os olhos para aquilo que não queres ver, blindando o teu espírito e afastando tudo o que não estás habituado, achas que assim és mais feliz? Estás é mais seguro, no teu reinozinho criado por ti, nesse mundinho fechado e que cheira a mofo devido ao sangue que se te parou nas veias e ao oxigénio que fez greve nos teus pulmões. Se te sentes bem assim porque te queixas? Porque te lamentas como se fosses o desprotegido do mundo, aquele que ninguém compreende, aquele de quem devemos ter pena e a quem devemos fazer todas as vontades e satisfazer todos os caprichos. Se há que ter pena de ti é exactamente por isso, pelo ser em que te transformaste, um bicho de conta que se esconde na carapaça do caracol.
Estas palavras não eram novas para ele. Ouvira-as da boca de A, B, C, D, todos aqueles que o amaram, amigos, família e namoradas, lhe disseram o mesmo, devido à sua incapacidade extrema de amar alguém que não fosse ele próprio. Como resposta inventada, para ele e para os outros, e que de tanto ser repetida se tornou verdadeira, ele queixava-se de uma infância triste, de ser o patinho-feio da escola, de não ser cuidado pela família, de não isto, de não aquilo e de não aqueloutro. E de todas as razões invocadas, nenhuma delas o tinha como actor. Ele era, apenas e só, o que sofria. E devido a esta atitude todos se afastaram, ou melhor, ele conseguiu que todos se afastassem, culpando-os ainda por essa bifurcação de caminhos. E também por isso aquela que estava sentada num trono de espuma a comer algodão doce com sabor a maracujá se foi embora.
--*--
Durante a noite ele decidiu que na manhã seguinte não sairia da cama. Ficaria ali, deitado, prostrado, imóvel, tentando ocupar o menor espaço possível da Natureza, faria todos os esforços para passar despercebido, mesmo perante aqueles que são invisíveis mas que habitam o ar que nos envolve. Não queria mais fazer parte deste mundo, do outro também não. Queria simplesmente desaparecer, cessar de existir. Porque era mais fácil.
Sempre porque era mais fácil. As palavras duras dos passos que ouvira na véspera continuavam a ressoar, violentas, afiadas como lâminas, e cravavam-se impiedosas sobre o seu coração. O sangue, vermelho vivo, brotava do peito como uma cascata furiosa ou como um vulcão zangado, impossível de deter. Em breve o quarto estava inundado por aquela massa esponjosa cor de carmim e o catre onde dormia boiava e rodopiava pelo quarto. E já não era o quarto, mas sim toda a casa, a praia, o mar tingido de vermelho, o céu a rebentar de escarlate, todo o universo destruído e imbuído pelo seu sangue egoísta.
E de repente um trovão acordou-o da letargia e retirou-o da fantasia. As paredes tremiam e o chão abria brechas. As portadas batiam e a casa parecia ter ganho vida, movimentando-se sem rumo. Tinha de sair. Era a única solução. Sem fôlego, com os batimentos cardíacos a rebentar no peito e os pulmões a ameaçarem rasgar-se, ele correu para a praia. Descalço, rumou à beira-mar. Os céus, em fúria, largaram toda a água contida durante a noite.
Sentiu-se pequeno. Demasiado pequeno perante a força da Natureza.
As ondas gigantescas salpicavam-lhe a face, o vento veloz picava-lhe o rosto, a areia dançante furava-lhe a cara.
Sentiu-se pequeno. Demasiado pequeno perante a força da Natureza.

E em pânico, abriu os olhos. Para nunca mais os fechar.

quarta-feira, novembro 8

Purificação

Nestes dias de temporal apeteceu-me ir para o meio da floresta ensopar-me de chuva.

Ai o toque do Liszt

Hoje de manhã quando tocou o despertador do telemóvel estava a sonhar que estava no cinema, como me acontece muitas vezes. E só pensei «Damn, esqueci-me de desligar o telemóvel outra vez!»

Coisas de miúdos II

Como quase todos os miúdos, na secundária tive uma queda (o chamado «crush») por uma professora. No meu caso foi uma professora de Português. Ao contrário da maioria dos docentes que tive ao longo de vários anos, de várias turmas e de várias escolas, a professora de Português era uma miúda (de espírito) como nós. Brincava com as palavras, ia a concertos de música e falava deles, alinhava nos jogos, nas visitas de estudo estava quase sempre connosco e não com os colegas, deu-nos o número de telefone, procurava explicar as nossas posições nas reuniões de turma e no Conselho Directivo, enfim, era mais uma de nós do que uma deles. Quando acabou o 12º ano ainda passei algumas vezes pela escola para a cumprimentar e falarmos um pouco.

Provavelmente vou-lhe dar uma telefonadela um dia destes, à professora de português CT.

terça-feira, novembro 7

Coisas de miúdos

Quando era pequeno tinha sempre dois sonhos iguais, recorrentes, que durante anos me assaltaram o sono. Não eram apenas sonhos, eram sonhos maus, pesadelos mesmo. De tanto os ter já não me preocupava tanto, mas o medo estava lá sempre.

Um deles metia uma bruxa, uma praia com rochas e a minha escola. Todos os dias, sempre soalheiros, ia eu a caminho do colégio, que era a três minutos de casa, quando, de repente, a rua e o jardim davam lugar a umas escadinhas íngremes feitas de seixos e conchas que davam acesso a uma praia deserta, dominada por grandes rochas. Era a praia onde passava férias todos os anos. A escola ficava do outro lado. Para lá chegar tinha de atravessar a areia. Mas mal eu descia o último degrau uma bruxa mecânica com os olhos a piscarem luzes roxas aparecia e não me deixava passar. Essa bruxa era igual a um presente que me deram e que ainda hoje guardo noutra casa. Durante minutos jogávamos o jogo do toca e foge, comigo a pôr o pé na areia e ela a aparecer, comigo a recuar e a ela a desaparecer. Passado um bom bocado ganhava coragem e lá seguia. Resultado: era sempre comido pela bruxa, que me engolia com os seus sons metálicos.

O outro sonho não acabava com a minha morte. No meu quarto tinha, e ainda tenho, um armário de parede com tabuinhas brancas. A meio da noite, quando espreitava para fora dos lençóis, via-me a ser trucidado pelas tabuinhas, a passar que nem plasticina entre elas e, quando chegava à última, rente ao chão, caía por um abismo igual ao poço da Alice no País das Maravilhas, aterrando na minha cama.

Uff, já passou.

segunda-feira, novembro 6

Clap your hands

Saddam foi condenado e será executado a 19 de Junho de 2007. Bush congratulou-se, Blair aplaudiu, Prodi deu o amén. E no Verão do próximo ano já estou a imaginar o circo mediático e a transmissão em directo para todo o mundo do assassinato do ditador.

Mata-se um homem e o mundo aplaude. Não está em causa todo o mal que Saddam fez, mas sim a barbárie que o Homem ainda possui em si.

Rede Expressos

Compreendo as tuas lágrimas.

Estar longe por vezes custa e dói. Viajar muitas vezes, sempre, destabiliza e estremece. Mas há-de passar. Tudo há-de passar.

Chuva

Ponte de ferro, chuva, casas, vivendas, mais chuva, árvores, vento, muito vento, o nada, o escuro, mais chuva.

Chegada à grande estação. A máquina parou. O frio. O vazio. Sentado no chão de cimento choro. Inconsolável, perdido. Para onde vou agora?