Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

quinta-feira, outubro 27

O que se segue?

Ontem, durante a reportagem no Edição da Noite da SIC-Notícias sobre a greve e manifestação no Terreiro do Paço do sector da Justiça, uma funcionária berrava: «Eu quero ter férias quando quiser, eu quero isto, eu quero aquilo, eu quero aqueloutro...!».

É devido a estes funcionários públicos, que não podem ser despedidos por incompetência porque o Estado é o empregador, que a situação caminha para a ruptura. Cada um olha para o seu umbigo, o «eu» é mais importante que o «nós», e o resto do país que se cuide, porque esta senhora quer por quer os seus «privilegiozinhos».

Conferência sobre Terrorismo e Relações Internacionais

«Contra a Europa eu protesto,
E contra a atracção do Ocidente:
Maldita seja a Europa e o seu encanto,
Que tão depressa aprisionam e desarmam!

As hordas da Europa a ferro e fogo
Devastam o mundo inteiro;
Arquitecto de Santuários,
A Terra aguarda a reconstrução; acorda!

Desse sono pesado,
Desse sono profundo
Acorda!
Desse sono profundo
Acorda!»

Muhammad Iqbal, Zabur-i Ajam, 1927

Durante esta semana assisti à Conferência Gulbenkian sobre Terrorismo e Relações Internacionais e veio-me à memória este poema. Estas palavras iradas uma têm uma razão de ser. O Ocidente tem-se sempre posicionado sobranceiramente em relação ao Oriente. O Islão não deve nunca ser subestimado, e infelizmente é isso que se tem verificado ao longo dos séculos, primeiro com a Europa, depois com os Estados Unidos da América.

Com o fim da Guerra Fria e a queda da URSS, os Estados Unidos viram-se como a única superpotência, «reis e senhores do mundo». E tal facto propiciou a arrogância e a consciência de que sós poderiam governar o planeta, nunca tendo de recorrer a nada e a ninguém. Os Estados Unidos criaram em si (e para si) próprios uma realidade à parte, um isolacionismo, apesar de tudo artificial. O 11 de Seteembro de 2001 veio provar que afinal até o que se apresentava inabalável pode ser atingido. O inacreditável aconteceu e a confiança mundial foi profundamente abalada. Esta realidade à parte revelou-se impossível. Portanto, como disse Bahá'u'lláh no século XIX, «Que não se vanglorie quem ama o seu próprio país, mas sim quem ama o mundo inteiro. A Terra é um só País e a Humanidade os seus Cidadãos».

E foi esta a mensagem principal desta Conferência: entendamos a diferença para que a possamos superar. Entendamos o Islão para que a Terra seja verdadeiramente Uma.

terça-feira, outubro 18

Saudades de Paris

Tenho saudades de Paris, cidade onde vivi alguns meses. Sinto falta daquele frio cortante, da Tour Eiffel e do seu espectáculo de luzes à meia-noite. Dos edifícios monumentais, dos palácios a perder de vista, do Louvre e do pôr-do-sol. Tenho saudades do Quartier Latin e do seu ambiente cosmopolita e internacional. Do Marais, onde a cada esquina se esconde um museu. Recordo o bairro judeu, recheado de restaurantes, sinagogas e lojinhas. Vem-me à memória a imponente Avenue Foch, perto de onde trabalhava, talvez a avenida mais bela do mundo. Faz-me falta o Arc de La Defense, a Ópera clássica e a Ópera de la Bastille, a Place de la Concorde, os Jardins do Luxemburgo e os lagos congelados de Versailles. Ou ainda da mágica Place des Vosges, com concertos de música clássica pelos alunos do Conservatório debaixo das arcadas. E muito, muito mais.

Sinto falta do atelier gigantesco da Gloria da Colômbia, onde se restauravam livros antigos ao som de elefantes asiáticos. Recordo as sextas-feiras mensais em casa da Lily do Senegal, onde num ambiente de união se reuniam franceses, ingleses, americanos, portugueses, espanhóis, colombianos, japoneses, alemães… Lembro-me do apartamento/palácio do Alexandre, na Avenue du Faubourg de Saint-Honoré, a rasar os Champs-Elysées, onde os jovens franceses de Paris passavam tardes de dolce fare niente.

Mas tenho saudades sobretudo da Île-de-Saint Louis, onde morava. Uma ilha que nos transporta para a Idade Média, para uma civilização à parte. A tranquilidade impera naquela minúscula ilha, tipicamente parisiense, de onde somos vigiados por Nôtre-Dame por um lado, o Louvre e o Hôtel de Ville (Câmara Municipal) por outro, ou pelo Instituto do Mundo Árabe e pela parte industrial de Paris em Bercy na parte este. A Pont Marie e a Pont Louis-Philippe levavam-nos de volta à cidade.

Faz-me falta sentar-me no «meu» banco, de olhos postos nas águas do rio Sena, onde passava horas ao Domingo, numa calma intensa. Faz-me falta Paris.

sexta-feira, outubro 14

Périplo pelas noites portuguesas III: Procópio (Lisboa)

O Procópio é um espaço intimista perto do Jardim das Amoreiras, em Lisboa, que abriu as suas portas pela primeira vez há mais de 30 anos. A anfitriã de sempre, Alice Pinto Coelho, fala com visível orgulho do bar que já foi casa de família.
Com as obras de adaptação, o Procópio mantém esse ambiente familiar, onde os clientes, com muitas caras conhecidas, se encontram para beber um copo e passar uma noite descontraída.
Personalidades ligadas à política, ao teatro, à música, ao jornalismo, à vida académica, ou simplesmente pessoas que vivem na vizinhança, nas zonas aristocráticas da Lapa, da Estrela ou das Amoreiras criam uma atmosfera de profunda cumplicidade.
O Procópio deve o seu nome ao Procope de paris, que desde o século XVII junta no mítico Quartier Latin os espíritos do iluminismo francês.
Em Lisboa, e segundo Alice Pinto Coelho, o Procópio tem também recebido os iluminados do nosso país.
Sinta-se em casa parece então ser o lema do Procópio.

O que se passou Domingo?

As eleições de Domingo confirmam que os portugueses estão cada vez menos tolerantes aos políticos, aos partidos e às medidas difíceis mas necessárias. Estamos a cair no laxismo e no facilitismo, em que todos concordam com os cortes estatais, desde que não sejam no nosso umbigo pequenino e individual.

Corremos o risco da instabilidade governativa instalar-se definitivamente, tal como nos tempos da I República (com colectivos de Governo com a duração de poucos meses). Eleições sucedem-se a eleições, tudo se muda e nada se constrói, a visão a curto-prazo e mediatista são a nota dominante.

Soares já não é fixe?

Miguel Sousa Tavares, na maratona eleitoral de domingo na TVI, disse o que muitos já pensaram sobre a candidatura presidencial de Mário Soares: que desista em prol de Manuel Alegre, unindo a esquerda, redimindo-se do acto deselegante para com o seu amigo e camarada de longa data e, sobretudo, poupando-se a uma derrota que poderá empalidecer a sua longa e valiosa carreira política.

As premissas que apresentou para o seu avanço para Belém (parte III), nomeadamente a de impedir uma entronização monárquica do agora sebastiânico Cavaco Silva, parecem não mais existir.

Mesmo o factor «Soares em campanha», que tantas vezes pareceu inverter lutas perdidas (como em ’86, na corrida à Presidência com Freitas do Amaral), não deverá agora resultar. A campanha terra-a-terra parece ter perdido sentido, Mário Soares tem mais 20 anos do que na altura e a excessiva colagem da candidatura ao PS são obstáculos aparentemente intransponíveis.

Com a entrada (finalmente) de Cavaco na corrida os dados podem alterar-se, pois o silêncio só tem protegido e beneficiado o antigo primeiro-ministro.

domingo, outubro 9

Périplo pelas noites portuguesas II: Piazza di Mare (Lisboa)

O Piazza di Mare é um bar-restaurante na zona de Belém, mesmo ao lado do BBC, Belém Bar Café, de braços abertos ao rio, com uma piscadela de olho à foz do Tejo lá ao fundo, com o Forte do Bugio a marcar a junção das águas com o mar. É a praça do mar, depois do abraço ao Tejo.

Tal como o nome indica, a cozinha é de alta influência italiana, onde reinam as inevitáveis pizzas, feitas à moda transalpina, claro - caprese, bolognese, napoletana. Os gelados, os verdadeiros, são os reis das sobremesas, a par dos bolos, cheesecake, mousse de chocolate ou tarte de natas.

A esplanada, cuja entrada dá para o rio, convida ao dolce fare niente, de manhã, de tarde ou de noite, ou ainda pela madrugada, num ambiente de conversas descontraídas, relaxadas, acompanhadas de sonoridades chill out.

Descontracção é de facto a palavra que melhor pode descrever o ambiente do Piazza di Mare, onde as vários tribos urbanas, sejam betinhos ou radicais, surfistas ou indies, sem esquecer os yuppies, marcam encontro, na preparação de uma noite que se adivinha longa.

As caras do Piazza di Mare são os rostos que, mais tarde, podemos encontrar no Lux, na Kapital ou no Paradise Garage, os lugares da moda da noite de Lisboa.

Abracemos o Tejo, descontraidamente.

O que é Portugal?

Aqui vos deixo alguns excertos da magnífica conversa entre Eduardo Lourenço e José Pacheco Pereira, publicada pelo jornal «A Capital», no passado dia 20 de Fevereiro, dia das eleições legislativas, sob o título «O que é Portugal?».

Que melhor texto para reflectir hoje, dia de eleições autárquicas?

«As crianças entram no pré-primário com milhares de horas de televisão e entram com um tempo, com um ritmo de vida, pouco propício à leitura, ao tempo lento, à atenção. O que está em crise, que depois se vê, primeiro nas capacidades de leitura, escrita, nas literacias, o que se vê é uma enorme dificuldade em a escola transmitir pensamentos estruturados.

(...)

Não está com atenção porque tudo, a publicidade, a televisão, o mundo, a música, é mais rápido, tem um tempo, tem uma aceleração que depois não é compatível com o tempo lento da leitura. Uma pessoa quando lê um livro tem de estar uma, duas, três horas sem fazer nada. A leitura é solitária...

(...)

Nós estamos em sociedades com cada vez menor memória e a obsessão da novidade, a obsessão do presente... Estamos em sociedades que só têm presente, não têm memória.

(...)

Um argumento de três fases não cabe num telejornal. E isso evidentemente cria uma degradação do pensamento, não é possível pensar, não há raciocínios, não há argumentos...

(...)

Nós estamos condenados a viver num presente em que não temos silêncio, em que não temos discrição, em que temos de ter sempre ruído, temos que ter sempre presente. Acho que o telemóvel é um bom exemplo disso. Hoje é socialmente inaceitável que não se esteja sempre presente para atender uma chamada telefónica. Ou porque transportamos o telefone no nosso corpo ou porque os gravadores de chamadas implicam sempre resposta.»

Xácara das Bruxas Dançando

Ó castelos moiros
armas e tesoiros
quem vos escondeu?

Ó laranjas de oiro
que ventos de agoiro
vos apodreceu?

Há choros ganidos
à luz da caverna
onde as bruxas moram,
onde as bruxas dançam
quando os mochos amam
e as pedras choram

Caravelas, caravelas
mortas sob as estrelas
como candeias sem luz
e os padres da inquisição
fazendo dos vossos mastros
os braços da nossa cruz.

As bruxas dançam de roda
entre o visco dos morcegos,
dançam de roda raspando
as unhas podres de tojo
na noite morta do povo
como num tambor de rojo.

Trovante

As minhas entrevistas - IV

Mais uma entrevista, desta vez com David Ganço, um jovem da Comunidade Bahá’í.

O David é dos jovens mais empenhados e enérgicos da Comunidade Bahá’í de Portugal. Está sempre na linha da frente no que diz respeito a projectos e actividades, como uma mola impulsionadora de todos.
Fora da Comunidade (e este fora muito entre aspas, porque a Religião Bahá’í confunde-se com a própria vida do David), é estudante de Engenharia Civil no Técnico e atleta, tendo passado nomeadamente pelo Sport Lisboa e Benfica.
No meio desta vida a altas rotações fui falar com o David sobre a Oração, um lado mais espiritual e tranquilo que faz das parte da vida de todos nós.

Hoje vamos falar sobre um tema que parece estar um pouco afastado da juventude dos nossos dias: a Oração. Primeiro que tudo gostava que nos dissesses o que é para ti a Oração, o que significa para ti rezar?

A Oração, para mim, significa falar com Deus. É uma forma de estar em contacto directo com Deus, sem intermediários.

Quer isso dizer portanto que tu podes orar, ou rezar, sempre que quiseres, e onde quiseres, é isso?

Sim. A Oração pode ser tudo o que tu fazes, desde que tenhas no teu espírito a devoção e o louvor a Deus. Tu rezas quando lês uma oração, tu rezas quando executas a tua profissão, tu rezas quando pensas em alguém que te é mais querido, tu rezas quando ajudas alguém. Ou seja, o que eu quero dizer é que o mais importante é o teu espírito, é a forma como te pões em contacto com Deus.

E é preciso algum local específico para rezares, por exemplo uma igreja cristã, uma mesquita muçulmana, uma sinagoga judaica ou um Templo Bahá’í?

Não. É claro que há sítios mais sagrados, como tu disseste as igrejas, as mesquitas, as sinagogas ou os Templos Bahá’ís, e nesses sítios o espírito de devoção deve ser ainda mais elevado. No entanto tu podes rezar sempre e onde quiseres. Como disse o mais importante é o espírito de louvor e de amor a Deus.

Falámos aqui em templos de várias religiões, como o Cristianismo, a Religião Muçulmana, o Judaísmo ou a Religião Bahá’í. Isso significa que podemos fazer orações Bahá’ís numa igreja cristã, ou orações judaicas numa mesquita muçulmana?

Mas é claro que sim! Como disse Bahá’u’lláh, o fundador da Religião Bahá’í, a Religião é só uma e deve ser Causa de Amor e Harmonia entre os Homens. Portanto, se tu estás num sítio que é descrito como a "Casa de Deus", seja uma igreja, uma mesquita, uma sinagoga ou um Templo Bahá’í, é claro que podes falar com Deus, porque a Oração é o meio que te leva a falar directamente com Deus, independentemente de onde estejas ou de qual seja a tua Religião.

O que sentes quando estás a fazer uma Oração?

Ao orar, sinto uma paz interior, um sentimento de bem estar… Por momentos liberto-me deste mundo materialista e exploro o meu lado espiritual. Qualquer que seja a situação porque estou a orar – quer seja por alguma dificuldade, alguma aflição ou mesmo por gratidão para com Deus – sinto sempre uma energia positiva, que me enche a alma e que procuro manter o mais tempo possível

Tens alguma forma especial para organizar os teus períodos de oração?

Não há um método único nem regras rígidas a seguir, depende da situação…
Quando estou sozinho, na minha privacidade, gosto de fazer orações sentado num sítio tranquilo, ao som de uma música calma.
Por vezes, quando algo acontece – um amigo tem um problema, há algo que me aflige – apenas fecho os olhos e, qualquer que seja o sítio onde esteja, procuro receber um pouco da tal energia positiva, da energia divina.
Também gosto muito dos períodos devocionais colectivos. Por exemplo na minha comunidade por vezes reunimo-nos para fazer orações pela paz mundial. Seleccionamos algumas orações de Bahá’u’lláh e de outros Manifestantes de Deus, como Cristo, Buda e Maomé. Procuramos criar um ambiente acolhedor e tranquilo, com flores e velas espalhadas pela sala, alguns amigos tocam guitarra e cantamos juntos.

Na Religião Bahá’í há alguma hora ou local específico para se fazer orações?

Não. Podemos orar quando quisermos, em qualquer altura do dia. Mas há uma oração especial que todos os dias devemos recitar, independentemente de recitarmos outras ou não, que é a seguinte:

«Dou testemunho oh meu Deus que me criaste para te conhecer e adorar. Confesso neste momento minha incapacidade e teu poder, minha pobreza e tua riqueza, não há outro Deus além de ti , o amparo no perigo, o que subsiste por si próprio»

Esta oração é como que um "relembrar" do porquê da nossa existência, das nossas capacidades e propósito na vida.

E existem orações específicas, para diferentes situações?

Sim. Bahá’u’lláh revelou muitas orações, que agora estão agrupadas em orações para as crianças, para os jovens, para a mulher grávida, de protecção, de cura…
Quando nos deparamos com qualquer destas situações podemos orar com as nossas próprias palavras, mas se utilizarmos as palavras sagradas, especialmente reveladas para esses casos, o poder dessas palavras, a sua eficácia, será certamente muito maior.

Sabemos que o ser humano não é apenas um corpo físico, ou seja, não é apenas composto por matéria orgânica. Somos muito mais do que isso. Somos sobretudo um ser espiritual. Queres falar-nos um pouco sobre esta dualidade do ser humano?

Claro! O homem tem um lado material e um lado espiritual. Quanto ao lado material, é do conhecimento geral que para sermos fortes fisicamente, temos de alimentar-nos bem e exercitar o corpo.
Quanto ao lado espiritual, os Bahá’ís acreditam que é através da oração que nos alimentamos espiritualmente. A oração poderá ser comparada ao alimento espiritual.

E como podemos desenvolver o nosso lado espiritual?

Da mesma maneira como desenvolvemos o nosso lado material! Para desenvolver o nosso lado espiritual precisamos também de algum exercício – todos os dias surgem testes/exercícios espirituais. Se conseguirmos pôr em prática as virtudes humanas, ou seja se tentarmos ser justos, leais, bondosos, honestos… iremos conseguir alcançar um espírito saudável e forte.

Há alguma oração que de que gostes particularmente?

Gosto de várias. Costumo fazer orações pelos jovens em geral, pelos meus pais e pelo progresso e bem estar da humanidade.

Há também um conjunto de Escrituras Sagradas Bahá’ís, chamadas as Palavras Ocultas, que são muitas vezes recitadas nos períodos de Oração. David, o que são as Palavras Ocultas?

São palavras de uma grande sabedoria e beleza, reveladas por Bahá’u’lláh, compiladas num livro, que começa assim:

«Ó Filho do Espírito! Meu primeiro conselho é este: possui um coração puro, bondoso e radiante, para que seja tua uma soberania antiga, imperecível e eterna»

terça-feira, outubro 4

Greve dos políticos

E se os políticos fizessem greve, a administração pública parasse e os que hoje reclamam injustamente com o fim dos privilégios dos seus umbigos vissem a sua vida paralisada?

É melhor alargar as vistas antes que a vida definitivamente se afunile.

Os olhos do meu primo

Numa visita à chamada «terra» encontrei o meu primo, um homem de quase oitenta anos.

Muito lúcido, verdadeiro contador de estórias, brilhante comunicador, nos seus olhos vivos podemos ver toda uma vida recheada de sabedoria e conhecimento.

Os olhos do meu primo têm muito para contar. Basta estarmos atentos e dispostos a ouvir.

É preciso entender que os mais velhos têm muito para nos ensinar, e nós, jovens, ainda mais a aprender. No entanto, é também preciso que esses mais velhos tenham em conta os jovens e os respeitem, não os desdenhando, como cada vez mais acontece. O fosso entre gerações alarga-se e aprofunda-se. E está nas mãos de todos alterar o curso dos acontecimentos.

O machismo de algumas mulheres

Maria José Nogueira Pinto, candidata do CDS-PP à Câmara de Lisboa, deu ontem, numa acção de campanha na capital, um verdadeiro tiro no pé.

Falando da necessidade de uma melhor limpeza das ruas da cidade, Nogueira Pinto, abordando as pessoas, perguntava se não concordavam que era preciso uma mulher para limpar Lisboa. O machismo parece que persiste igualmente (ou ainda mais), na cabeça das próprias mulheres.

Mais um assunto da semana passada... A polémica do novo aeroporto de Lisboa, com a ideia lançada pelo secretário de Estado do Turismo de uma estrutura dedicada apenas às companhias low cost, ganhou mais achas para uma fogueira já de si galopante.

Um aeroporto de low cost mais próximo que um aeroporto para as grandes companhias, a construir na Ota? Impensável, argumentaram muitos. Porquê fazer o inverso de Paris, Londres, Barcelona e Milão, cujos aeroportos secundários se encontram a muitos mais quilómetros e minutos que os principais?

Não seria mais simples então reservar a Portela apenas para as grandes companhias e deixar o segundo aeroporto para as low cost? A solução parece a mais razoável de momento, já que incompetentemente se adiou tanto a decisão que agora não existem de facto verbas para uma construcção sustentada economicamente. Isto porque a decisão de construção deveria ter sido tomada há dez anos (mais uma crítica a apontar ao agora «divinizado» Cavaco Silva) e hoje já não teríamos a novela «Ota».

As eleições em Lisboa

Manuel Maria Carrilho e o PS lançaram um novo cartaz em Lisboa. «Por um voto se ganha por um vot se perde». Dá a ideia que as projecções de voto que o partido dispõe apontam para uma disputa renhida no topo.

Carmona Rodrigues fala pela primeira vez numa maioria expressiva. Será que as sondagens internas do PSD dão uma vitória certa, com hipótese de maioria absoluta?

As eleições na capital aquecem.

Contra as vitórias morais

Já lá vai uma semana, mas o jogo do Glorioso SLB em Old Trafford com o Manchester United persiste na memória. Pela combatividade do Benfica, pela hipótese de fazer História, pelo jogar de igual para igual com o colosso inglês, pelo golo de antologia de Simão, enfim, por mil e uma razões. No entanto o SLB perdeu, e nada pode atenuar esse facto. O Benfica perdeu, uma derrota que vale zero pontos, tal como a humilhação do FC Porto frente ao Artmedia e do Sporting diante do Halmstads. Portanto, vitórias morais não servem para nada. No desporto ou se ganha ou se perde. E o Benfica mais uma vez perdeu.

Quem eu levo comigo

«... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.»

Miguel Sousa Tavares, a propósito da perda da sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner