Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

quarta-feira, fevereiro 28

Verdades contemporâneas

Nos dias que passam trabalhamos por dois ou três e recebemos por um ou nenhum.

Seu corpo

No seu corpo é que eu encontro
Depois do amor o descanso
E essa paz infinita
No seu corpo minhas mãos
Se deslizam e se firmam
Numa curva mais bonita
No seu corpo meu momento é mais perfeito
E eu sinto no seu peito o meu coração bater
E é no meio desse abraço que eu me amasso
E me entrego p'ra você.

E continua a viagem no meio dessa paisagem
Onde tudo me fascina
E me deixo ser levado por um caminho encantado
Que a natureza me ensina
E embora eu já conheça bem os seus caminhos
Me envolvo e sou tragado pelos seus carinhos
E só me encontro se me perco no seu corpo.

Roberto Carlos - Erasmo Carlos

Almas gémeas?

Num episódio de uma série de televisão falava-se da alma gémea. Não creio que exista. Não é pessimismo ou amargura, nem sequer imaturidade ou resultado de más experiências. Simplesmente creio não existir alguém que corresponda em tudo ao que idealizamos, que equivalha às nossas expectativas e bata certo com o que esperamos de quem nos vais acompanhar para o resto da vida. Temos de nos moldar a quem nos pareça valer a pena e esperar o mesmo desse alguém. Quanto às pessoas perfeitas... Acreditamos nessa fábula aos 10 anos de idade.

Hábitos

Durante este fim-de-semana estive perante mais um teste. Tenho o hábito, a experiência e fui educado a dizer tudo, a expressar o que penso e a não guardar pensamentos que possam atingir dimensões gigantescas por serem pressionados e esmagados no local pequeno que é a nossa mente. Tenho igualmente o péssimo hábito de esperar o mesmo de quem me rodeia e quando isso não acontece fico como que perdido. Páro, faço um esforço para juntar todos as peças, e mais tarde assimilo as situações. O resultado? Mal-entendidos, pessoas tristes, incompreensões. Prefiro explosões de mau-génio, se necessário, a ambientes de paz presa por um fio. E acabo por provocar conversas e discussões para que todos ponham as cartas na mesa e a partir possam encontrar soluções e caminhos de entendimento. Desgasta mas é eficaz. Porque eu posso explodir e podem explodir comigo mas se as coisas ficarem resolvidas passados cinco minutos já não me lembro de nada.

sexta-feira, fevereiro 23

Zeca

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Zeca, hoje o dia é teu. Tal como teus e dos teus ideais deviam ser os dias. Não te conheci, só te conheço pelas palavras dos meus pais, pelas memórias dos amigos dos meus pais, pelas recordações da minha família. Especialmente gravei na memória uma festa de homenagem que te fizeram, a geração dos meus pais, numa quinta algures nos campos de Loures. Era um miúdo, um puto que não sabia nada, e que agora também não sabe. O que não vou esquecer é a voz de milhares de pessoas reunidas no Terreiro do Paço a cantarem a canção do 25 de Abril de 1974, a tua canção.

Parece que muitos já esqueceram Abril. Votam em Salazar para o melhor português, dizem que no tempo dele é que era bom, parece que têm saudades...

Zeca, para ti um abraço. Fraterno.

segunda-feira, fevereiro 19

Mar de Luz

- Posso contar-vos uma história?

Os olhos gigantes, de um azul claro profundo como o mar, aproximaram-se de nós e colocaram em cima da mesa dois cubos pintados de aguarela.

- Abram.

Os olhos gigantes brilharam ainda mais que a luz do sol que invadia a esplanada do Castelo com vista para Lisboa. Lá dentro estavam dois fios com uma semente na ponta. Na semente as rugas formavam uma retina.

«É o vosso olho interior», disseram-nos os olhos gigantes. «É uma semente de uma árvore do Tibete».

Verdade ou não, a originalidade da história e da abordagem convenceram-nos a comprar os fios. Para ela funcionou como pulseira, para mim funciona como fio ao pescoço.

sexta-feira, fevereiro 16

Sol e solar

Começam a ser ridículos alguns golpes na nossa Língua. Solarengo e soalheiro. Sempre o mesmo erro. Um dia com muito sol e quase sempre o ignorante proclama «um dia solarengo». Acontece que esta palavra aplica-se a casa solarenga, com forma de solar. Um dia com muito sol é um dia soalheiro. Ponto.

Razões

Uma colega de trabalho queixava-se ontem que tinha jurado nunca mais fazer madrugadas. Mas cá esteve até bem tarde. O que faz correr estas pessoas?

Rituais sem sentido

Mais uma vez passou à porta de sua casa.
Mais uma vez não tocou à campainha.
Mais uma vez não subiu.

Mais uma vez.

quinta-feira, fevereiro 15

Manu Chao é que sabe

«¡Entre lo dicho y lo hecho, el camino es derecho!»

segunda-feira, fevereiro 12

Pensamentos do dia de ontem III

A participação de um ouvinte num fórum na rádio na tarde de hoje não me sai da cabeça. O iluminado senhor insurgia-se contra a vitória do Sim, que eram todos uns assassinos e não sei que mais. Questionado sobre se havia votado ontem... Não, não votou.

Elucidativo.

Pensamentos do dia de ontem II

Em conversa com alguns colegas de trabalho tentámos perceber e encontrar formas de combate à vergonhosa abstenção:

1- Quem não votar em três eleições consecutivas perde o direito de voto;
2- Quem não quiser votar que o declare à Comissão Nacional de Eleições e assim deixa de alimentar a abstenção;
3- Quem não votar terá de pagar uma multa;
4- Quem não votar perde direitos fiscais, tais como apresentar algumas despesas no IRS;
5- Quem votar terá um prémio;
6- E a mais radical (e humorística claro); quem não votar será açoitado em espaço público.

Pensamentos do dia de ontem I

Será que os partidários do Não virão agora dizer que o sismo que atingiu o país, ainda que de levezinho, é um sinal de Deus do erro cometido?

domingo, fevereiro 11

Hoje

Sim.

«Bobby»

Uma semana, cinco filmes. Viva o Medeia Card. Um por um, «Assalto e Intromissão», «Pecados Íntimos», «Uma verdade inconveniente», «Bobby» e «Diamante de Sangue», preencheram quase todas as noites dos últimos sete dias.

«Bobby» é um excelente filme. Actores maiores em competição pelo galardão do melhor impossível de atribuir. Mas acima de tudo a transmissão de sensações e crenças. A crença que de facto há causas maiores que nos levam a acreditar. Pessoas e discursos que nos entusiasmam. Ideias e missões que nos insuflam a essência e que dão motor à nossa existência. Bobby Kennedy, o seu projecto, as pessoas que o rodeavam e o seguiam eram algo assim. A comparação com Bush, Rumsfeld, Condoleezza só nos pode deixar tristes e esmagados. Só falta um ano para o fim.

Ainda falta um ano para o fim...

sexta-feira, fevereiro 9

Starlight for the weekend

Far away
This ship is taking me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

Starlight
I will be chasing your starlight
Until the end of my life
I dont know if it’s worth it anymore

Hold you in my arms
I just wanted to
Hold you in my arms

My life
You electrify my life
Let's conspire to ignite
All the cells that would die just to feel alive

I’ll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away...

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to
Hold you in my arms

Far away
This ship is taking me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

I’ll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away...

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to
Hold you in my arms...

Muse

Porque será?

Pergunta solta: porque é que os restaurantes ditos de luxo têm guardanapos de papel? Medida ecológica louvável ou poupança em pormenores que denuncia as intenções de cinco estrelas?

Aproxima-se finalmente sexta-feira e já vou na segunda semana de trabalho com seis dias...

terça-feira, fevereiro 6

Noite agitada no Castelo

No sábado fui jantar com uns amigos do Porto, Guimarães e de Lugo, na Galiza. Interessados em fumar chicha lembrei-me do bar marroquino no Castelo de S. Jorge. Lá fomos, entusiasmados. Chegados cerce às muralhas deparamo-nos com o sistema de semáforos que asfixia aquela zona. Não pudemos entrar e à nossa volta o caos de automóveis avolumou-se. À nossa frente estava um fadista, nas palavras dele convidado pela Junta de Freguesia do Castelo para cantar numa colectividade local e com autorização do vereador respectivo para entrar na zona. Resposta dos semáforos: não pode entrar. Perante esta situação nem me atrevi a pensar mais e estacionei o carro no primeiro buraquinho que encontrei. Com toda esta situação perdemos mais de meia-hora. O resto da noite valeu pelo incómodo.

A questão é: como matar desta forma uma rua, a Rua da Costa do Castelo, que tem dois teatros (Taborda e Chapitô), uma Escola (a Escola do Chapitô), vários bares (Santiago Alquimista, Bar Marroquino, etc.) e restaurantes e que alberga ainda o monumento mais visitado de Lisboa, o Castelo de S. Jorge? Não permitem estacionar na zona mas logo em redor é o caos, o que desmobiliza qualquer um de ali aceder. Mais uma vez se comprova que a proibição não é a solução, muito menos sem alternativas...

Concerto para um

Envolvido pela música clássica, pelos oboés, pelos violinos, pelos pianos, pelos cravos, pelos clarinetes, abstraio-me dos automóveis, das buzinadelas, das curvas apertadas, dos encontrões, das filas intermináveis. Fecho os olhos e imagino que voo pelo mundo, pelo campos sem fim, pelas copas das árvores frondosas, pelo interior das cascatas; chego às estrelas e mergulho como um torpedo nas águas macias do oceano. É tudo tão real que sinto até a água a percorrer-me pela pele e a fazer-me festas no cabelo, aspiro o cheiro intenso a resino e ouço os pássaros a festejar a sua liberdade por entre os ramos entrelaçados.

Acordo sobressaltado. Perdi, mais uma vez, a minha paragem.

domingo, fevereiro 4

A notícia do ano

Andava eu a pensar que queria ser pai e chega-me a notícia de que a namorada do meu irmão está grávida. Mesmo com mais de 10 meses até ao final de 2007, esta é a notícia do ano =)