Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

quarta-feira, janeiro 24

Dois braços

Ensinaram-me que não devemos ser os primeiros a soltar o abraço. Se for esta a instrucção para todos passaremos a vida eternamente abraçados.

segunda-feira, janeiro 22

Para quando?

«El espectáculo era sobrecogedor. Se encontraban rodeados de impresionante belleza: cumbres nevadas, enormes rocas, cascadas de agua, precipicios cortados a pique en los montes, corredores de hielo. Al ver aquel paisage Alexandre Cold comprendió por qué los habitantes del Reino Prohibido creían que la cima más alta de su país, a siete mil metros de altura, era el mundo de los dioses. El joven americano sintió que se llenaba por dentro de luz y de aire limpio, que algo se abría en su mente, que minuto a minuto cambiaba, maduraba, crecía. pensó que sería muy triste dejar ese país y regresar a la mal llamada civilización.»

El Reino del Dragón de Oro, de Isabel Allende

segunda-feira, janeiro 15

Parafraseando Pessoa...

Dói-me o futuro...

quinta-feira, janeiro 11

Utopia da terra

Por vezes penso como seria a minha vida em África. Imagino-me numa terra diferente, com sons e cheiros diferentes. O som dos tambores e djambés, o cantar dos pássaros tropicais e o rugido longínquo dos leões. O cheiro da terra molhada, das folhas verdes e das ervas secas. O sorriso das gentes, imaculadamente branco e verdadeiro. As lágrimas grossas que resvalam pelas caras que sofrem. As estradas de terra batida sem fim. Os solavancos dos jipes e das carrinhas de caixa aberta. As roupas largas e frescas. O calor abrasador e carinhoso. As praias paradisíacas e as águas transparentes, quentes como em mais nenhum local no mundo. O céu limpo e azul, profundamente azul, um azul sem fim, como no mundo do fim do mundo. A chuva purificadora. A utopia.

E a sensação de liberdade, sem prédios, sem alcatrão, sem betão nem cimento, sem gentes de cara fechada, sem leis que ninguém percebe, sem a escravidão moderna do euro, do dólar e do iene, sem a vigilância apertada e castradora do novo olho público. Ser feliz sem ter de perguntar porquê. Ser feliz porque sim. Ser feliz.

quarta-feira, janeiro 10

O fim da missão

Não consigo lidar com a morte. Ou melhor, não sei se consigo. Raramente choro pela partida de alguém. Quando o faço é sempre por familiares de amigos, sobretudo pelas mães que já partiram. Mas quando a morte me toca, a mim, mais directamente, fico desorientado. Não choro, não entro em desespero e sigo em frente como se nada se tivesse passado. Mas sinto. E o que sinto fica cá dentro. Talvez por acreditar que de facto a partida foi para um sítio melhor, o que me tranquiliza, ou por crer que a missão da pessoa em questão aqui, neste canto perdido da Via Láctea, terminou, e há então que arregaçar as mangas para o que se segue.

sábado, janeiro 6

3.

Saio da cascata em ebulição e da minha pele solta-se o fumo, como um vampiro que acreditei ser.

2.

Quem dera cortar as nuvens em cubos de caramelo e deixar o sol viver.

1.

Desmaiando-se na onda que morre o sol suspirou até amanhã.

quarta-feira, janeiro 3

Para começar o ano...

Tenho andado a pensar na forma como me relaciono com o Outro e com as opções que se me apresentam todos os dias. Muitas vezes, quando me perguntam ou questionam sobre algo, opto pelo «Sim, pode ser» ou pelo ainda pior «Como achares melhor». Tenho de passar a dizer «Sim, quero» ou «Não, não quero». Evita mal-entendidos, facilita a comunicação e abafa eventuais obstáculos que se resolvam a aparecer pelo caminho.

Se calhar é do início de 2007 mas muitas vezes não percebo porque me chateei com algumas pessoas. Sei apenas que não falamos, que nos cruzamos na rua, pelos sítios de sempre, nos olhamos mas nada dizemos. O motivo da zanga qual foi? Não sei. Estamos magoados um com o outro? Sim, estamos, disso sei que sim. E vale a pena? Não, sem dúvida que não.

Fechei a porta de vidro para não mais lá voltar.