Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

sexta-feira, agosto 31

Gostos

Não gosto da palavra jornalista. Gosto (muito) da palavra observador. Observateur. Osservatore.

quinta-feira, agosto 30

Memórias olfactivas

Cada vez mais me apercebo que identifico pessoas e localizo situações, recordo acontecimentos e revivo recordações, actualizo memórias através dos cheiros. O meu nariz tem sido a caixa registadora da minha vida, directamente ligado ao mais profundo e escondido da minha mente.

quarta-feira, agosto 29

Fogo de água

Que saudades que tinha de um mergulho nocturno no mar que já não me lembrava do fogo-de-artifício brilhante das ondas das nossas mãos.

segunda-feira, agosto 27

Avenida 9 de Julio

Frio. Muito frio. É a primeira sensação que tive quando cheguei à Argentina, dado que em doze horas a tempertaura baixa de mais de trinta graus centígrados para menos de dez. A segunda sensação tem a ver com as doze horas de voo e com o alívio de elas terminarem.

Buenos Aires, a rainha da América do Sul, a rainha do tango, é uma grande cidade que se espalha por quilométricas avenidas sempre a direito, tendo como ponto central a gigantesca Avenida 9 de Julio, a avenida mais larga do mundo, com vinte faixas de rodagem. Tudo é em grande na Big Apple sul-americana, a começar pelo caótico trânsito. Onde há três faixas andam quatro automóveis. Desde que haja espaço tudo é possível.

O tango está presente a cada esquina, seja pelos cartazes que anunciam o V Campeonato Mundial de Tango, seja pela música ao ar livre que domina as ruas pedonais ou as lojas. Inconscientemente os pés começam a mexer, o corpo a ondular e a essência do tango, sensual e matadora, envolve-nos por completo.

A cidade está dividida em bairros perfeitamente definidos e com as suas características muito próprias.

Comecemos pela Boca, o mais tradicional, com as casas pintadas às cores, recordando como o tango nasceu no Caminito, um troço de rua no coração do bairro. Aí podemos El Pibe, o mítico Diego Maradona, para os argentinos o melhor jogador de sempre. E sublinho «para os argentinos» já que corre a piada que diz: para levares um argentino ao suicídio basta apagares o seu ego... Voltando ao Diego, é claro que se trata de um sósia, mais que perfeito, do grande Maradona. E de Maradona passamos para o seu berço que o levou à fama, o maior clube de futebol da Argentina, o Boca Juniors. Uma visita ao estádio, apelidado «La Bombonera», é obrigatória. A importância do Boca Juniors é tão grande que até a poderosa Coca-Cola se verga ao prestígio do clube. Sendo um dos patrocinadores, a marca teve de trocar as suas cores vermelho e branco pelo preto e branco no interior do estádio para não chocar o clube, já que o encarnado é a cor do arqui-rival River Plate.

Saindo da Boca passamos a San Telmo, o bairro do tango e dos antiquários. Pelas suas ruas podemos encontrar antigos palácios e casas senhoriais agora abandonados, casas de tango escondidas e um espírito sul-americano que se aproxima da insegurança, o único local onde a senti. Nos antiquários a inevitável Evita em fotos, jornais e retratos da época. Aliás uma nova Evita está a chegar ao poder, com o avanço da actual mulher do presidente para a Casa Rosada. Depois de Evita chega a vez de Cristina Fernández.

E por falar em Casa Rosada, a sede da presidência, caminhamos para Downtown, com a Plaza de Mayo, as Diagonais Norte e Sur, as sedes dos bancos e dos órgãos de poder, os hotéis e a Bolsa. Downtown, a Baixa da cidade como indica o nome, tem no seu centro a Calle Florida, uma rua pedonal e dominada por lojas em todos os quarteirões, com bancas de rua, animação, artistas, quiosques, uma verdadeira festa ao ar livre. É considerada a mais importante artéria comercial da Argentina.Segue-se a elitista e exclusiva Recoleta. É o bairro da classe alte e endinheirada, onde está o Buenos Aires Design District, as embaixadas, as grandes lojas de marcas internacionais e por onde os ricos se passeiam na terra da abundância. Avenidas largas, prédios imponentes a lembrar Paris e muita elegância. O mausoléu de homenagem a Evita está igualmente na Recoleta. Não deixa de ser irónico que a rainha dos descamisados, sempre renegada pelas classes altas, seja agora homenageada no seu bairro.

A parte nordeste de Bueno Aires é dominada pelo gigantesco bairro de Palermo, que inclui o Palermo Soho e o Palermo Hollywood. O primeiro é o paraíso das galerias de arte e dos ateliers de criação, a par de restaurantes de luxo e locais para sair à noite. Já Palermo Hollywood é a sede dos estúdios de rádio, televisão e cinema. É também aqui que encontrei um dos melhores restaurantes onde já fui, o Osaka, fusão de sabores japoneses com peruanos. Linguado e salmão com molho de maracujá, vieiras com parmesão, polvo com curry, sushi com abacate, tudo regado com sumo de lima. A «tripetir», já que repetir fi-lo eu.

Por fim resta Puerto Madero, o novo bairro junto à costa, onde se juntam restaurantes da moda e lofts gigantescos para habitação com arranha-céus feitos de aço e vidro, na atmosfera típica de um grande porto.Os argentinos são em geral gente muito amável e simpática que adora conversar e divertir-se. E apesar de estarmos numa cidade muito europeia não deixa de ser América do Sul. Resta saber entrar na festa e no espírito certo. Perder-se pelas ruas e entre os porteños (habitantes de Buenos Aires), à mistura com brasileiros, peruanos, colombianos e bolivianos.!Dale! (ao invés de Espanha, onde se diz !vale!, aqui diz !dale!)

domingo, agosto 26

Big Apple

Depois de muito tempo sem escrever, talvez demasiado, resolvo de novo pegar no escrivinhador, objecto que permite traçar e escrever o que a mente transmite. Como quase sempre estou a fazê-lo à mão e depois segue para o teclado.

Não escrevi primeiro por desleixo, segundo por cansaço, terceiro por saturação, quarto por falta de tempo e quinto, e finalmente, por começar a pensar se tinha algo para dizer ao mundo... ou até se não escrevo apenas para mim próprio. Isto tendo em conta estudos que apontam que a internet está cheia de lixo electrónico...

Mas resolvi retomar. Porque estou finalmente de férias, passado quase um ano, mas sobretudo porque estou do outro lado do mundo. BA, não Bairro Alto mas sim Buenos Aires, Argentina, a Big Apple da América do Sul.

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