Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

terça-feira, julho 29

No teu mapa

Tiago Salazar... Gonçalo Cadilhe... Miguel Sousa Tavares... João Garcia... Grandes viajantes, papa-milhas, explora-mundos. Está no sonho de muitos poder fazer da aventura da descoberta do planeta uma profissão. Nos meus sonhos também. Pagarem-nos para fazermos algo que amamos só no melhor dos mundos!

Resolvi então pensar nas poucas viagens que já fiz.

As viagens em pequeno à Madeira, Açores e Biscaia não contam.

Terceira, Açores, viagem de finalistas do 6º ano. Não me lembro de muita coisa. Recordo a estranheza de uma praia com areia preta. A chegada pistas meias com a base norte-americana. O Algar do Carvão, mergulho num poço para o interior da terra revestido a folhagens verde vivo. E pouco mais.

Israel, aos 15 anos. Grande entusiasmo; quatro horas de avião; sair da Europa; ir para um sítio que todos os dias aparecia nas notícias. Tel-Aviv, a capital, parecia um cidade do futuro, com edifícios futuristas que contrastavam com a marginal e um mar a 30 graus à meia-noite. Lembro-me de termos sido considerados suspeitos por termos largado uma mala sem vigilância num autocarro e nos termos ido sentar. Haifa, a terceira cidade do país. Paraísos de verde num país seco, depois da travessia de um deserto num táxi comum para lá chegar. Jerusalém. Viagem ao início da cristandade. Muita história e simbolismo. E um choque na Basílica do Santo Sepulcro. O local da sepultura de Jesus Cristo é uma loja de souvenirs, com o pior marketing possível. Basílica da Natividade em Belém, depois de fronteiras armadas com espingardas a sério. Mar Vermelho; boiar no sal sob um calor abrasador; brincar com camelos no deserto e conhecer homens de turbante.

Madeira. Passeio à volta da ilha. Palhotas em Santana. Sentimento de ar salgado do mar em Porto Moniz. O fim do mundo no Curral das Freiras. A cidade nova no Funchal. Um avião a aterrar no Oceano perto do Machico.

Bordéus. Cinzento, muito cinzento. Obras. Pessoas tristes e carrancudas. Cidade feia e mal-cheirosa. Regresso de Sud-Express, uma grande e magnífica viagem, sobretudo pela passagem pelo País Basco, um destino ainda a cumprir.

Barcelona. Uma das cidades de sonho, com visita bisada, trifeita e com tetraregresso. Sentir-me em casa, como em Lisboa. Muita e boa vida e o mar gigantesco à frente.

Vale do Marne, algures perdido na ruralidade de França. Uma semana em quase acampamento e a viver da Natureza, um mergulho nas raízes mais antigas da Europa medieval e dos saltimbancos. A primeira vez que ensaiei a barba descuidada do homem das cavernas, que confortavelmente deixo crescer.

Paris, 2002 ou 2003. Muito frio. A primeira vez numa cidade maior que Lisboa. Abrir os olhos e a consciência para outros mundos. Aprender a desenrascar-me completamente sozinho numa cidade desconhecida. E a promessa do regresso.

São Miguel, Açores. Fusão com o verde das Sete Cidades, com o amarelo da Lagoa do Fogo, com o preto quente das areias da Praia do Pópulo. Andar à boleia sem preocupações. O delicioso sotaque dos micaelenses. As pessoas maravilhosas mas fechadas. O voluntariado em prisões, creches, lares e escolas. O mar a tocar no céu.

Paris, para viver, em 2004. Tornar a cidade minha e conhecer os passeios e as ruas como a palma da mão. Servir de guia turístico para os amigos numa cidade que não Lisboa. A minha ilha e as águas que rodearam sempre durante seis meses. O atelier gigantesco da Gloria, com cantos de elefantes. Os minutos de refúgio, escondido em Notre-Dame. Os pequenos-almoços gigantescos de Domingo com os estrangeirados de Paris. O espanhol tornado em inglês tornado em francês tornado em português em menos de um minuto. As luzes especiais e cintilantes da Torre Eiffel à noite. E a sensação de ser crescido, de ter uma casa para orientar e uma vida para cumprir.

Budapeste, Hungria, 2004, em trabalho. Pouco vi, mas o desejo de conhecer melhor nasceu. Péssima recordação: a final do Euro 2004, com a derrota de Portugal frente à Grécia. No restaurante onde vi o jogo com o meu pai todos torciam pela Grécia e os únicos que saíram com cara de caso fomos mesmo só nós os dois.

Bucareste, 2007. O império em decadência. A História de quem já foi grande. Perceber que Portugal não é o mais atrasado da Europa.

Buenos Aires, 2007. Tal como em Barcelona, senti-me em casa. Sou porteño também, e provavelmente os meus caminhos vão cruzar-se com a Argentina.

quinta-feira, julho 17

Hitler perdeu a cabeça

A cabeça de Hitler foi cortada durante o fim-de-semana na inauguração do Museu Madame Tussaud de Berlim. Já era esperado que a figura de cera do tenebroso ditador fosse tudo menos pacífica. Até porque antes da inauguração muitos manifestaram-se contra Hitler como figura de entretenimento num museu deste género. Penso que Hitler não deve nunca ser esquecido para que seja lembrado sempre que o Holocausto existiu, foi verdade e durou muitos anos. Porque alguns insistem em desmentir e em afirmar que tudo não passou de uma encenação ou de um engano. Foi sim um engano da História. Hitler deve ser lembrado, nem que seja numa figura de cera decapitada, para que as gerações que aí vêm, já longe dos tempos do Holocausto, saibam que ele existiu. E que pode repetir-se caso a Humanidade não esteja atenta.

segunda-feira, julho 14

Abre los ojos

A deputada espanhola Rosa Diez lançou uma campanha contra a discirminação que diz serem alvo milhares de cidadãos espanhóis que são excluídos de direitos fundamentais como o acesso ao trabalho e à língua na educação por não saberem catalão, galego ou basco. Lembrei-me logo de algumas aulas na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, quando pedi aos professores que substituíssem as aulas em catalão pelo castelhano, não só para que eu e os meus colegas de outros países percebessemos, mas também para que os espanhóis de outras regiões do país entendessem. Resposta? «Estamos na Catalunha e aqui fala-se catalão». Aragonés, campeão da Europa, mil vezes abençoado sejas.

domingo, julho 13

Já chega

Mais triste do que termos perdido o Euro perante os odiosos alemães é o facto dos meios de publicidade portuguesa ainda não terem percebido. E lá continuamos a levar com a Galp e a Energia Positiva. E o Modelo e a Força de Campeões. E etc e tal.

sexta-feira, julho 11

Diz uma voz experiente

As pessoas só morrem quando nos esquecemos delas.

terça-feira, julho 8

Importa-se de repetir?

Ainda no outro dia, durante o Jornal da Noite, a SIC fazia contas ao que vai melhorar e piorar na segunda metade do ano. IVA, combustíveis e cereais à parte, o que surpreendeu foi a colocação, no mínimo bizarra, da obrigatoriedade de painéis solares em prédios novos na coluna dos contras. Engano de grafismo? Não, já que o pivot fez questão de reforçar a balança. Estará a SIC contra as energias limpas e renováveis?

quarta-feira, julho 2

Ouvido pelos corredores

«Perdi demasiado tempo a achar que não conseguia. Agora perco tempo a perceber como chegar lá».