Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

quinta-feira, julho 28

A pergunta

Geniais as perguntas escolhidas por Fátima Campos Ferreira e Mário Crespo para a edição da Única deste fim-de-semana sobre a Interrogação, tendo como mesmo entrevistado Nelson Mandela.

"Como é que se transforma um sentimento de vingança em sentimento de união?" - FCF

"O seu perdão é genuíno ou estratégico?" - MC

quarta-feira, julho 27

Conversas à beira da piscina I

Quando se junta um grupo de pessoas que trabalha no mesmo sítio e outras que já por lá passaram, a conversa necessariamente vai lá parar. São os ordenados que são baixos e que não sobem. São as horas que são esticadas. São os chefes que não lideram. São as promoções que não percebidas. São as indicações que não são explicadas. São as saídas que não se percebem. São as entradas que não existem e as que existem que não se justificam. Mas há uma observação comum: a falta de oportunidades. São sempre os mesmo que fazem as coisas mais giras e desafiantes. E apenas porque sim. São laços de amizade que vêm de longe, de onde e quando não se sabe nem se percebe. Nunca o ditado fez tanto sentido "as coisas são como são". Dedicação? Entrega? Horas? Isso vem depois.

E mal sabem eles que eu daria tudo para voltar a esse esquema.

terça-feira, julho 26

Ter emprego era natural, não um privilégio, ambição de madraço

Excelente artigo de António Costa Santos na Única desta semana, sobre "A geração da dúvida"

sexta-feira, julho 22

Última sessão

Voltei às sessões de cinema à meia-noite. Estar de volta a Lisboa e estar desempregado permitiu-me a recuperação de um velho hábito. E confesso que já tinha saudades e soube bem, apesar do filme fraquinho. Confissões de uma namorada de serviço.

Seja pelo pequeno espírito de transgressão, ao ir ao cinema a uma hora em que muitos já dormem ou estão a caminho disso. Seja pela imaginação das histórias de cada uma daquelas pessoas, necessariamente poucas, que se juntam numa sala de cinema depois da meia-noite. Seja pelo facto de poder ir sozinho sem que ninguém olhe de lado e pense "coitado, deve ser um solitário que não arranja companhia".

Há uma atmosfera diferente e única na sessão da meia-noite. Personagens limite que se encontram, unidas por um objecto de arte, separadas por tudo o resto.

Good to be back.

quinta-feira, julho 21

Bielorússia + estágios não remunerados

Em conversa com um bielorusso hoje (uma estreia, já que nunca tinha conhecido ninguém de Belarus), falava-se de crise. Não existe crise em Portugal, dizia-me ele. Mesmo com a chamada do FMI, questionei. Nada disso, crise a sério é na Bielorússia, acrescentou ele. De facto, parece que é uma questão de perspectiva. Mas com o mal dos outros, diz e muito bem o ditado popular, podemos todos.

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E por falar em crise, na minha busca diária em sites de emprego, pensava que os estágios não remunerados já não eram permitidos por lei. Mas há quem, para além da grande falta de moral, insista em pisar a lei...

terça-feira, julho 19

Eu vivo em Portugal. E estes senhores?

Ainda o Expresso. E agora também o Sol. Gostei muito de ver o arquitecto Saraiva, no seu iluminado editorial, referir que para fazer face à crise se devia trocar o Audi A8 pelo Audi A4. E outros exemplos que tais. Mais estimei ainda mais que Diogo Freitas do Amaral, normalmente tão sensato, venha questionar "tanto alarido pelo corte de metade do subsídio de Natal". Lá emendou a mão numa entrevista à TVI, mas o que estava dito lá ficou.

Enfim, eu vivo em Portugal. E estes senhores?

segunda-feira, julho 18

MJNP

Já passaram quase duas semanas desde que MJNP morreu. O verbo é mesmo este, "morrer". Não é falecer, perecer, deixar a terra, partir. Morrer. Cruamente, porque a morte é apenas isso, de forma crua deixar de viver. Não há forma agradável de o dizer e não que contemporizar ou ser paternalista.

Além de todo o valor, que era imenso, de MJNP, embora quase sempre pensasse de forma completamente oposta, de todo o respeito e admiração pela força, pela frontalidade e pela coragem de falar e dizer, a sua morte tocou-me porque a doença que a matou foi a mesma que matou o meu Pai.

Quem passou proximamente por uma situação destas saber que não há nada a fazer. Viagens aos Estados Unidos, experiências em Espanha, tentativas em Inglaterra, nada vale a pena. É, por enquanto, uma sentança de morte certa. E breve. São poucos meses para nos consciencializarmos que vamos perder aquele que amamos. Que mais do que nós sabe que vai morrer, mas que encara a doença e o fim com serenidade e se torna maior, superior. Aconteceu isso com o meu Pai e certamente aconteceu o mesmo com MJNP. Basta ver a sua crónica, a última, publicada no Diário de Notícias no dia da sua morte.

De novo a palavra "morte". Não podemos ter medo nem ser dramáticos. Chorar se sentirmos que sim. Ficar tristes e melancólicos se for esse o caso. Mas não entrar numa maré negra. O meu Pai e MJNP não o fizeram, e foram eles que mais sofreram e perderam a vida. Nós ainda cá estamos. Por isso, não nos façamos de vítimas e pobrezinhos. Aprendamos com quem já cá não está.

Com quem morreu.

domingo, julho 17

De consciência limpa mas de bolsos vazios

Na edição da semana passada do Expresso, o sociólogo Boaventura Sousa Santos falava, em entrevista, da necessidade de uma mudança de paradigma, tendo em conta que nos nossos dias as pessoas aceitam toda e qualquer situação laboral. Por fazer parte dos que não aceitam tudo e dos que se vergam à força injusta e injustificada de quem está acima, apenas e só por isso, por não ser dos que acham todos os abusos normais e que sacrificam vidas inteiras a uma causa supostamente maior, talvez por isso tudo ainda esteja no limbo, à entrada da trintena. De consciência limpa mas de bolsos vazios. Bem comigo mas mal com alguns outros. A vida é feita de escolhas, ensina-nos a Economia, e é por aí que tenho trilhado um espinhoso caminho. Mas com o sorriso de sempre.