Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

terça-feira, novembro 27

Adiça

Na praia secreta há castelos nas falésias. Muralhas ocre de areia dura polvilhada com arbustos verdes ácidos. As areias do castelo da falésia da praia secreta trazem-me à memória aqueles que já cá não estão. Que morreram. Que se modificaram e são outra pessoa. Recorda-me aqueles que cresceram. Lembra-me a criança que eu era e de quem tenho saudades.

sábado, novembro 24

Back to basic (s)

Somos avaliados até ao final da faculdade. Melhor, somos avaliados até ao final da vida, mas aí com outros professores e outros critérios dos quais nunca saberemos a razão.
Mas na Universidade, ou até ao final do curso e a partir dos seis anos, somos medidos, auscultados, verificados, com tabelas, perguntas, exercícios e um leque vário de outras possibilidades.
Somos lançados ao mundo do trabalho e a avaliação periódica e sistemática termina. Ou pelo menos não é assim tão clara. Já não vamos «ver as notas» nem preenchemos uma ficha de auto-avaliação. Ficamos portanto perdidos entre o que pensamos, entre a opinião dos nossos colegas, aqueles que gostam de nós e aqueles que não gostam, e a tabela sempre cinzenta de quem manda, ou devia fazê-lo, mas que muitas vezes também não tem quem o avalie.
Pode pensar-se que o final da avaliação periódica da Educação e do Ensino é um atestado de maioridade e de liberdade. No entanto, longe daquele que acha que sabe tudo e pode ser, por si só, o seu próprio avaliador.
Apetece-me voltar à escola.

quarta-feira, novembro 21

Sofia, Marcos, Paulo, Miguel, Pedro

No outro dia, ainda noite porque eram sete e meia da manhã, estávamos cinco papagaios na régie a emitir o porta-aviões da estação. Eu, o mais novo, juntamente com o resto cujo mais velho pouco passou dos trinta. Éramos (e somos) uma cambada de miúdos que em jeito de brincadeira vai levando o barco a bom porto.

sábado, novembro 17

du Bocage

«Sentia a ambição juvenil de desempenhar um papel de notabilidade. Como os portugueses de outro tempo. Aqueles que tinham chegado aos mares do fim do mundo e ligado os povos da Terra. Ele resolvera no momento. Iria para a Índia.
Todo o português é poeta alguma vez na vida. E alguma vez na vida sonhou com o horizonte do mar do fim do mundo.
Mesmo que o prosaico da vida o faça apagar-se na banalidade dos actos. Então passa a ser a contradição de si próprio. Atolado no lodo da mediocridade. E a centelha do génio fica a faiscar saudades do que não foi.
Afogado na utopia ou na desmesura libertina.
Resta-lhe um grito de desconformidade. Em versos.»

terça-feira, novembro 13

A colher rejeitada

Cinco da manhã. Apetece-me uma colherada de marmelada da Tia que está no frigorífico. Sem acordar o Sebastião do seu sono canino vou buscar uma colher. Boing, mais uma vez a colher que não gosto e nunca uso, que apesar de lavada e relavada parece-me sempre suja. Volta para a gaveta, até ao próximo azar.
Tantas vezes na vida rejeitamos a colher que nos parece suja, por mais limpa que esteja. É feia, não brilha, tem uma cor diferente. De rejeição em rejeição qualquer dia só sobra essa colher. Que fazer nessa altura? Crescer e perceber que é uma colher igual às outras… ou passar fome e ficar aguado de marmelada?

domingo, novembro 11

El dia que me quieras

Acaricia mi ensueño
El suave murmullo de tu suspirar,
Como rie la vida
Si tus ojos negros me quieren mirar
Y si es mio el amparo
De tu risa leve, que es como um cantar,
Ella aquieta mi herida,
Todo, todo se olvida!...

El dia que me quieras,
La rosa que engalana,
Se vestirá de fiesta
Con su mejor color.
Al viento las campanas
Dirán que ya eres mia
Y locas las fontanas
Se cantarán su amor

La noche que me quieras,
Desde el azul del cielo,
Las estrellas celosas
Nos mirarán pasar
Y un rayo misterioso
Hará nido en tu pelo,
Luciérnaga curiosa
que vera que eres mi consuelo

quinta-feira, novembro 8

Gloriosos tempos

À volta de uma excelente massada de tamboril com camarão vamos solidificando amizades. Decalcando a vida e as personagens do horário certinho (pouco certo porque as horas são sempre demais) para o tabuleiro do resto do tempo (este sim o principal e que precisa de ser mais acarinhado e bem vivido). E depois há as limas e açúcar amarelo, tremoços e amendoins, muita loucura às tantas da manhã e o camarote da Catedral.

terça-feira, novembro 6

Palavreando sem sinais de trânsito

Tenho sido protagonista de algumas discussões nos últimos tempos. Ando mais irritado? Sim. Mais desiludido? Também. Menos tolerante? É provável. Impaciente? A paciência sempre foi a virtude que mais tive que desenvolver. Muitas destas discussões devem-se a mal-entendidos, a pequenos nadas que alimentados pelo silêncio das não-palavras se tornam em gigantescas bolas de fogo difíceis de apagar. Dá-me ideia que cada vez menos nos pomos em causa, quase nunca duvidamos das nossas interpretações e livremente, conforme o estado de espírito, escrevemos a peça de teatro da vida sem reflectirmos sobre as outras personagens que não nós, que somos o protagonista. O guião, as atitudes e o destino dos actores é decidido a priori por nós, sem verificarmos com eles se as coisas de facto se passam como as dispusemos no nosso xadrez cerebral. Resultado? Verdades absolutas, certezas inabaláveis, discussões sem sentido e zangas que podem ganhar raízes e tornar-se infinitas.

domingo, novembro 4

Question!

Pedro, Pedrinho, Pedrão, Pedrocas, Pedrito, Pierre, Pitar, Peter, Pestanas, Tigre, Tigrão, Ken, Kenjoon, Vaz Marques, Vaz Tê, Marques, como é que eu hei-de saber quem sou?