Ontem o tempo parou
Ontem o tempo parou.
Ontem o tempo parou às nove da noite.
Ontem o tempo parou não sei por quanto tempo.
Ontem o tempo parou numa lagoa de água salgada.
Ontem o tempo parou à beira do mar.
Ontem o tempo parou e eu parei com ele.
«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector
Ontem o tempo parou.
Mudaram-me de posição. Outra vez. Volto para o que não quero e não gosto. Eles sabem e eu faço questão de o dizer e mostrar. Mais uma vez não me perguntaram. Nunca perguntam e sempre impõem. Sempre. Estou triste, cansado, farto, contrariado. Estamos todos.
Minutos antes do noticiário.
- Não fumes.
As gaivotas hoje juntaram-se em linha junto ao mar para dizer até amanhã ao sol. E nem se mexeram quando me sentei ao lado delas.
Love me tender,
Hoje a maré não parou de subir e ficámos sem praia.
E agora regresso do Porto Santo, Madeira. Uma semana fantástica. Pelo sítio, a Ilha Dourada, com areia amarela e tão fina que se entranha na pele e não sai. E com águas límpidas e transparentes, quentes a convidar o mergulho fácil. O silêncio do meio do oceano. A linha do horizonte a toda a volta. E os amigos. Os de há muitos anos. Os recentes e que subiram muitos degraus. E os feitos lá. Dois privilégios, que à sua maneira ensinaram-me coisas muito importantes. O início do novelo. O começo do esboço. A cumplicidade. O olhar que diz tudo. Os flics na praia. As estrelas cadentes que hão-de chegar. As histórias simples e complexas que começam por «Era um vez...». As danças malucas e os jogos loucos. A despedida difícil, cada vez mais difícil. E a tranquilidade nos olhos. Nos teus olhos.