Grande Educador da Classe Operária
«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector
Andar no 28 é sempre motivo de alegria. E de saudade. Sendo um privilegiado lisboeta por ter uma das paragens mais emblemáticas à porta de casa, a da Basílica da Estrela, desde sempre que a minha história se confunde com o eléctrico.
Nesta altura de Natal chovem as crónicas e os relatos daqueles que vão passar o Natal a terra das origens. Falam da lareira acesa, dos doces especiais, do frio, da família.
O jornal Metro tem uma crónica todos os dias, à laia de editorial. Num país que lê pouco, cujos indicadores de literacia parecem ser dos mais baixos da Europa e cuja circulação de jornais é baixíssima, é um sinal muito positivo ver quase toda a gente de jornal Metro na mão (ou Destak) de manhã nos transportes públicos. Claro que são pequenas notas numa publicação de meia dúzia de páginas mas não deixa de ser salutar.
Todas as manhãs a menina chocolate e o menino chocolate estão sentados no banco vermelho do autocarro com vista para a igreja grande. De pé vão as mães da menina e do menino chocolate, mas se tiverem sorte vão sentadas em frente aos dois, também elas no banco vermelho. Vão sempre a rir e a conversar a menina e o menino chocolate e naquela hora matutina enchem de alegria e sorrisos as olheiras e as pestanas pesadas das pessoas que estão à volta. Velhinhos que acordam sempre cedo ou adolescentes contrariados a caminho da escola, ninguém fica indiferente. E a menina e o menino chocolate fazem a festa, apenas com gargalhadas e coisas simples, brincadeiras de crianças.
Esta semana voltei a fazer voluntariado numa ONG aqui do bairro. Não custa nada dedicar umas horas em prol de outros que precisam muito mais. A win win situation.
As pessoas que nos autocarros públicos fincam pé à saída, mesmo que a sua paragem seja só a última, são iguais àquelas que nas rotundas contornam tudo pela faixa mais afastada do centro ou como aqueles que no futebol de escola ficam juntinho à baliza à espera da bola (o chamado 'ficar à mama').