Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

sexta-feira, outubro 31

Mania dos rankings

Na sala de espera do Hospital/Hotel de luxo Cinco Estrelas da Luz, numa destas noites.

– Hoje estive tentado a ir a Santa Maria – diz o rapaz, perna estendida no sofá depois de uma entorse durante o treino – mas acabei por vir aqui.

É, dizem que à segunda-feira é o dia forte aqui na Luz.

Estamos então perante um campeonato de hospitais. Como se fossem bares ou discotecas. «Hoje estava para ir ao Lux, mas a noite aqui é mais divertida às quintas-feiras.»

terça-feira, outubro 28

Já não me sinto tão sozinho...

Quase 20 mil pediram subsídio em Setembro

É já uma certeza: o desemprego vai aumentar em Portugal. É isso que está a acontecer nas economias desenvolvidas e a razão é simples: a crise do sistema financeiro e bancário obrigou os bancos a fecharem a torneira do crédito às empresas e particulares, estrangulando a economia. Se não há crédito, há menos investimento e menos consumo. E se as empresas investem e vendem menos, então reduzem os postos de trabalho. E é assim que o desemprego cresce.

In DN

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Prisa quer vender parcela da Media Capital, grupo da TVI
2008-10-07
O grupo espanhol Prisa gostaria de vender parte da Media Capital a investidores portugueses, mas ainda não avançou com a alienação, mantendo-se "tudo em aberto" na decisão, afirmou hoje à Lusa o administrador Miguel Gil.
O responsável garantiu que a decisão de vender parte da Media Capital está a ser ponderada "como foi anunciado há quase um ano pelo [administrador-delegado] Manuel Polanco", mas que "está tudo em aberto" em relação à forma e à participação a alienar.

In JN

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Cofina quer vender semanário Sol e mostra desinvestimento nos media

O grupo de comunicação social Cofina está a desinvestir no sector. Primeiro, porque acaba de manifestar vontade de sair do semanário Sol, onde é o maior accionista, segundo disse à Agência Lusa o director do jornal, José Hermano Saraiva. Depois, porque iniciou na semana passada negociações para a rescisão com dez pessoas do Correio da Manhã, entre jornalistas e administrativos, além dos 12 que recentemente foram dispensados do Record. E, ainda ontem, era notícia que o seu gratuito Meia Hora deixaria de ser distribuído na rua para se concentrar apenas nos centros de escritórios, enquanto os resultados da revista TV Guia já começam a ser questionados.

In DN

segunda-feira, outubro 27

Por estes dias...

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.»

C. Lispector

quinta-feira, outubro 23

Flamencar

Depois da Carmen, chegou a vez da Carmina Burana pelo Ballet Flamenco de Madrid. A música é daquelas tão conhecidas e populares como um êxito do Caetano Veloso ou dos Beatles. A diferença está no andamento, no tablao, no ritmo dos saltos que marcam o compasso do flamenco. E também no 5,6,7,8… 1,2,3,4 que marca o ritmo da alma e nos faz perguntar do que é que somos afinal feitos e compostos.
Faz-nos pensar em acampamentos ciganos, em olhos verdes e pele curtida coberta por xailes e coletes negros, em redor de uma fogueira gigantesca.

Faz-nos pensar em castelos no alto do monte e em exércitos a galope com espadas e escudos a levantar o pó dos caminhos da Idade Média.

Faz-nos pensar em caldeirões de ferro e em bruxas e em cozinhados na penumbra de uma casa perdida na serra de pedra.

Faz-nos saber que somos portugueses, espanhóis, ibéricos, celtas, visigodos, lusitanos. Faz-nos ter orgulho de ter História.

terça-feira, outubro 21

A praia escondida

O caminho para a praia escondida é longo. Não temos que apanhar o avião nem passar pontes mas é preciso primeiro deixar a teia das ruas da cidade, vencer o viaduto, atravessar a floresta, seguir pelo alcatrão pintalgado de branco e por fim, lá ao longe, onde o mar começa e a terra acaba, seguir pelo caminho de terra e pó. A praia escondida não se vê, só mais à frente, depois de uns minutos a pé a contornar a Natureza.

Nunca sabemos se o dia vai estar bom na praia escondida. É uma questão de palpites e de pensamento positivo. Só quando chegamos à curva da quinta Sinfonia é que ficamos a saber se temos ou não que voltar para trás. E o caminho é longo, não esquecer.

Na praia escondida, tão escondida que muitas vezes não tem ninguém, há sempre coisas novas para descobrir. É pequena, é verdade, mas cheia de recantos, de cantos secretos e está sempre a mudar. São ordens do mar, já se sabe.

Há dias em que os nossos pés podem deixar uma marca onde ninguém esteve nos últimos tempos, nem vai estar nos próximos, uma pegada que apenas o Senhor mar pode apagar.

Há coisas vermelhas escondidas no mar da praia escondida que não sabemos se são bichos ou se são plantas mas que se apressam a esconder os tentáculos às bolinhas sempre que alguém aparece.

Há buracos entre as rochas espalhadas ao acaso pela areia da praia escondida onde nos podemos encaixar, sentir o frio da pedra nas costas e os picos a magoarem a pele, e onde podemos ficar uns minutos ou mais, rodeados do cheiro a iodo, como se a rocha e o nosso corpo se transformassem num só.

E há o tempo que se esconde na praia escondida e que não passa, porque lá só entra quem Ela quer para que em cada segundo possamos festejar a dádiva que é viver.

domingo, outubro 19

You tell me

Por alma de quem o primeiro Starbucks em Portugal fica… num centro comercial em Alfragide? Depois de Paris, Nova Iorque e Barcelona… Alfragide! (com todo o respeito pelas gentes de Alfragide)

sexta-feira, outubro 17

Códigos

O Sebastião entretém-se a maior parte do tempo no quintal ou na varanda, quando está em Lisboa, a ladrar para o ar e depois pára por uns segundos como se estivesse à escuta. E sempre que ouve um latido vai a correr e ladra também. Será que os cães conversam uns com os outros, à distância, têm discussões e reuniões sobre tudo e sobre nada, tal como os humanos? Eu cada vez mais me parece que sim… E que se entendem.

terça-feira, outubro 14

Viver para contá-la

«Fomos para a estação do caminho-de-ferro numa vitória de um só cavalo, talvez o último de uma estirpe lendária já extinta no resto do mundo. A minha mãe ia absorta, olhando a árida planície calcinada pelo salitre que começava no lodaçal do porto e se confundia com o horizonte. Para mim, era um lugar histórico: com três ou quatro anos, no decurso da minha primeira viagem a Barranquilla, o avô levara-me pela mão através daquele descampado ardente, andando depressa e sem me dizer para quê e, de repente, encontrámo-nos em frente de uma vasta extensão de águas verdes com arrotos de espuma, onde flutuava um mundo de galinhas afogadas.
– É o mar – disse-me.
Desiludido, perguntei-lhe o que havia na outra margem e ele respondeu-me sem hesitar:
– Do outro lado não há margem.»

Gabito (Gabriel García Marquéz)

domingo, outubro 12

Crisis

Já passaram quase duas semanas. Que pareceram uma eternidade ou mesmo tempo que se assemelharam apenas a um instante. Os motivos foram muitos, ou até podem ter sido muitos, não sei bem e se calhar ninguém o sabe, mas no final, mesmo no último grão da ampulheta, apenas um motivo. Aquele que gere o mundo e o faz girar, e que neste momento o mergulha num abismo de crise: os cifrões, euros, dólares, ienes, os nomes diferem para a mesma coisa.

«Não há dinheiro», dizem-me. E eu acredito. Só tenho que acreditar. Resignar-me. Aceitar. Reagir de forma diferente ia fazer com que me sentisse melhor? Sim, talvez, quem sabe. Adiantava o que quer que fosse? Não, disso não há qualquer dúvida. Foi injusto. Custou e custa muito e é difícil de aceitar.

Muito foi dado, muito tempo, muito espaço, muitas ideias e preocupações, enfim, foi dado o melhor, porque o melhor era o esperado. E porque o melhor deve ser dado sempre, de consciência limpa e tranquila. Muitas caras, muitos risos, mas também muitos gritos e algumas discussões necessárias, muitas histórias e alguma experiência, bons amigos e grandes momentos pessoais e profissionais é o que dali levo. E solidariedade, ainda mais visível nesta saída.

E de todas as formas... o futuro está ao virar da esquina... e a ampulheta pode de novo ser virada ao contrário.

quinta-feira, outubro 9

Rostos

Num fim-de-semana familiar na casa do pinhal demos de caras com uma prima antiga. «És igualzinho ao teu bisavô Alfredo», diz a senhora, que nunca me tinha visto antes.

A família é o mais marcante que temos.

Arrepiando

No espectáculo da meia-noite os Roncos do Diabo ribombaram e zurziram com força transcendente as gaitas-de-fole e os bombos que aqueceram a noite fria e fizeram correr mais depressa o sangue bombeado pelo coração de cada um dos presentes. São traços de portugalidade profunda que ainda nos distinguem do resto do mundo.

F F F

No novo programa da Catarina Furtado no Domingo à noite a produção resolveu convidar um senhor que esteve envolvido nos primeiros testes de segurança à então Ponte Salazar, hoje Ponte 25 de Abril. O senhor começa por dizer que está muito triste porque o seu Sporting tinha perdido (1-2 com o FC Porto), e há uma grande manifestação do público, mas depois diz que está muito feliz pelo seu conterrâneo José Régio, de Alpiarça, por ter sido um dos responsáveis pela implantação da República nesse mesmo dia 5 de Outubro, mas de 1910. Silêncio absoluto e gelado na plateia. Futebol, Fátima e Fado? Parece ainda que sim…

Culinária no duche

Um dos shampoos no duche tem polpa de melancia. Para quando essência de ameijôas à Bolhão Pato?

Manias

Porque é que os nossos analistas políticos insistem em dizer «a senhora Pailin», «o senhor Biden» e «a senhora Clinton» e não dizem «o senhor Silva» ou «o senhor Sousa»? O Alberto João até por vezes diz «o senhor Silva» (Cavaco) mas alguém o leva a sério?