Viver para contá-la
«Fomos para a estação do caminho-de-ferro numa vitória de um só cavalo, talvez o último de uma estirpe lendária já extinta no resto do mundo. A minha mãe ia absorta, olhando a árida planície calcinada pelo salitre que começava no lodaçal do porto e se confundia com o horizonte. Para mim, era um lugar histórico: com três ou quatro anos, no decurso da minha primeira viagem a Barranquilla, o avô levara-me pela mão através daquele descampado ardente, andando depressa e sem me dizer para quê e, de repente, encontrámo-nos em frente de uma vasta extensão de águas verdes com arrotos de espuma, onde flutuava um mundo de galinhas afogadas.
– É o mar – disse-me.
Desiludido, perguntei-lhe o que havia na outra margem e ele respondeu-me sem hesitar:
– Do outro lado não há margem.»
Gabito (Gabriel García Marquéz)
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