quinta-feira, agosto 30
quarta-feira, março 4
Os moderninhos - II
Vivemos numa época em que o minuto que passou é já pré-história. Todos querem ser mais rápidos, ter mais depressa, ultrapassar antes de todos. E ficarem frustrados, descontentes, insatisfeitos, a um ritmo cada vez mais alucinante. Não há tempo para saborear o momento nem para criar ansiedades e expectativas. Já não temos que ir ao cinema para ver filmes, já não temos que esperar que a nossa canção do momento passe na rádio ou na televisão (ou até comprar o cd), já não temos que esperar pelas cartas e pelas fotografias dos nossos amigos e família. É tudo automático e instantâneo, e por isso mesmo descartável. E este tempo que não existe e que não se dá tempo a si mesmo mata o encanto de esperar e depois de dar valor quando o objectivo pelo qual se esperou chega. E se calhar por isso anda tudo muito frustradinho e entendiado, porque as coisas se esgotam num ápice. Não me importa nada que me chamem velho, chato e cinzento, mas não quero ver séries no computador, não quero saber as novidades pelo Facebook ou pelo Skype, não quero saber das fotografias sobre o que se vai comer ao almoço/jantar ou a que horas se foi ao ginásio. Deixem-me estar no meu mundinho que acham retrógado e divirtam-se a brincar aos robots, às apps e aos drones.
segunda-feira, março 2
Porcos na estrada
Num acesso irreflectido logo pela manhã, ao sair de casa, estava a atravessar a rua pelo meio da fila de carros e uma senhora deitou a beata do cigarro pela janela. Virei-me e disse-lhe: ‘Que grande porcaria, pelamordedeus’ e apontei para a beata. Segui o caminho meio envergonhado mas depois cheguei á conclusão que quem devia ter vergonha era a senhora. Ela e todos os que deitam as beatas de cigarro para o chão, mas também os papéis, os caroços de fruta e outras porcarias. Se calhar uma fiscalização apertada e não uma fiscalidade verde (que como é óbvio os tugas conseguiram contornar) não seria mal pensada. Educavam-se os bárbaros e sacavam-se mais uns impostos.
sábado, fevereiro 28
Até amanhã Saramago
Terminei de ler há poucos dias o último livro de Saramago, Alabardas, a despedida do nosso Nobel da Literatura. São pouco mais que um par de páginas e a cada palavra, linha, parágrafo e folha sentia um crescendo de tristeza com a certeza que ia dizer adeus a algo que nunca mais veria, ou seja, material inédito de um dos meus escritores de eleição. A sensação é quase a mesma que aquela que sentimos quando nos vamos despedir de alguém ao aeroporto, quando quebramos uma amizade que já nos magoava ou quando cortamos laços com alguém para sempre. Ou quase como deixarmos uma casa onde passámos momentos importantes da infância ou memórias marcantes das férias. Já não vai haver mais Saramago nem textos geniais com enredos sublimes. Independentemente das ideologias. Alguns acusam Saramago de ser apenas um comuna da pior espécie e inimigo da liberdade. É o mesmo que dizer que Richard Wagner não passava de um perigoso nazi e anti-semita. Independentemente das ideologias, a genialidade de ambos não deve ser colocada em causa. E sempre que nos despedimos de um vulto cultural devemos perceber que um pedaço de nós também diz adeus.
quinta-feira, fevereiro 12
Encore Charlie
Já passou mais de um mês e como alguns vaticinaram na altura
a coisa foi meio esquecida. O Charlie Hebdo foi atacado de uma forma
imperdoável. Mas de facto será que vale mesmo tudo na propalada liberdade de
imprensa? Ridicularizar um manifestante de Deus, neste caso Maomé, é
justificado e justificável? Ou apenas mau gosto e falta de noção e de respeito?
Na altura também me chocou que alguns puxassem do
catolicismo como o exemplo da tolerância e da sociedade ocidental como a regra
da liberdade. Com certeza são os mesmos que já se esqueceram que foi o mesmo
catolicismo que há pouco mais de dois séculos queimou pessoas nas fogueiras da
Inquisição e a mesma sociedade ocidental que há 60 anos gaseou judeus, ciganos
e homossexuais nos campos de concentração.
Continuamos a querer castigar e diabolizar aquilo que não é igual a nós. E troçamos do que é diferente, como se fosse algo menor e indigno de partilhar o mesmo espaço.
terça-feira, fevereiro 10
Os espertinhos
Há umas semanas assisti a uma conferência sobre marketing
digital e os desafios dos media em relação às novas plataformas e tecnologias.
Sala cheia de cabeças pensantes e de gente que manda e decide no negócio. A
moderadora era a jornalista Helena Garrido, directora do Negócios, que perante
alguns desvios Zeinal Bavianos (os players, o core business e outras expressões
pretensiosas do inglês) resolveu pôr os pontos nos is e dizer que ‘no tempo em
que eu nasci os jornais chamavam-se jornais’. Logo um coro de meninos novos
munidos de iPads e outros brinquedos abanou a cabeça e troçou da suposta
bota-de-elástico. Esta nova geração até pode saber muito, mas respeito e
tolerância parecem mesmo ser coisas do passado.
domingo, fevereiro 8
Expresso vs SOL
Há umas semanas o semanário SOL anunciou que António Guterres não ia ser candidato às eleições presidenciais. Na semana seguinte o Expresso desmentiu e disse que sim senhor, o antigo primeiro-ministro deveria lutar pelo Palácio de Belém. Esta semana é a vez do próprio Expresso dizer que afinal Guterres não vem mesmo. Teremos para a semana o SOL a garantir que Guterres sempre se apresenta à corrida? Interessante esta luta de semanários.