Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

quinta-feira, novembro 27

Parabéns Cante

No dia do Cante vêm-me à memória dois episódios, protagonizados pelos meus dois Tios.

Há uns anos, no aniversário da minha Tia, fomos almoçar a um restaurante em Mourão, como diz a canção, mesmo ali à beira do Guadiana. O Alentejo é sempre bonito, deslumbrante na sua vastidão, e naquele dia de Inverno estava ainda mais resplandecente, juntando-se também ele à celebração.

No dito restaurante, verdadeiramente típico, com os melhores enchidos, os melhores queijos e o melhor pão, comi a melhor sopa de cação da minha vida. Excelente comida, excelente companhia, excelente dia, mas o melhor da refeição estava guardado para o fim. Um grupo de homens, com cajado e capote, entrou no restaurante e pôs-se a entoar várias modas do cante, numa demonstração espontânea cheia de alma alentejana. E quando foram informados que a minha Tia fazia anos fizeram uma roda e ofereceram uma canção de parabéns. Não falámos sobre isso mas tenho a certeza que esse foi o melhor presente daquele dia e daquele ano.

Mais recentemente, o meu Tio e um grupo de cantares alentejanos que integra tiveram uma actuação em Cascais, concelho onde se sabe que vivem muitos alentejanos. Para além das vozes afinadas e encorpadas do grupo, o concerto teve o privilégio de contar com a presença do Grupo Coral “Estrelas do Guadiana” e com Rancho Coral e Etnográfico de Vila Nova de São Bento, que de facto encheram o Teatro Gil Vicente, bem no centro da vila. Nunca é demais salientar e acentuar a força e o poder daquelas vozes, bem como os arrepios que provocam na alma. Mas as palavras não atingem um mísero décimo do que é sentir o que se sente quando se ouve o Cante.

Por isso mesmo, e simplesmente, parabéns Cante. Era merecido e finalmente o reconhecimento internacional chegou.

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