Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

sexta-feira, outubro 10

Crónicas de Leeds – Dia 1

Viagem no avião da Ryanair pela segunda vez, passados dez anos de um Paris-Barcelona em que confesso que o voo tremeu por todos os lados e por uma das poucas vezes numa ligação aérea pensei que íamos cair. Desta vez sem problemas, apenas os bancos amarelo-canário que me levou a ir as pouco mais de duas horas de voo sempre de óculos escuros, como se fosse um concorrente da Casa dos Segredos. Viajar na Ryanair é uma festa, é como ir à Feira Popular. Há sempre algo a acontecer, desde hospedeiros e hospedeiras para trás e para a frente num corredor estreito onde só cabe uma pessoa, passando por sorteios de raspadinha entre os passageiros, até a um capitão que de vez em quando conta piadas e mete-se com os colegas. ‘Eu amo você’, dizia ele, volta e meia. E no final, à chegada a Manchester, depois do tradicional agradecimento de termos escolhido a Ryanair e do desejo de nos voltar a ver, acrescenta que se isso não acontecer brevemente, aproveita para desejar ‘Feliz Natal e Próspero Ano Novo’.

O aeroporto de Manchester é gigantesco, muito maior que a nossa humilde Portela, mesmo juntando o ainda mais humilde Terminal 2. No caminho para Leeds, destino final, pelo meio das auto-estradas, a condutora R. explica-me que nesta altura não pode andar a mais de 50 miles devido às obras. E eu pergunto se mesmo com obras se pagam portagens. Responde-me que não, que não portagens em Inglaterra, pelo menos aqui no Norte. Portugal acaba por ter o pior dos dois mundos. Temos auto-estradas que não são precisas, em sítios onde não as pedimos e onde bastavam IC’s ou IP’s, e para além disso, quando estão em obras, continuamos a pagar as portagens, ao contrário da Alemanha, onde quando há trabalhos o utilizador não paga (não se pode pagar um serviço que não se usufrui certo?). Mas como nem tudo pode ser perfeito, e ao contrário das nossas estradas, normalmente mal indicadas ou sem indicação sequer, aqui no Norte de Inglaterra há placas por tudo e por nada, luzes no asfalto, setas e mais setas, o que nos leva a perder a saída para ir visitar a V. que fazia anos. Fica para o fim-de-semana.


Chegada a casa. Bairro tipicamente inglês, ou pelo menos o que vemos nos filmes. Tudo muito calmo, organizado, quase desenhado a regra e esquadro. Moradias individuais, nenhuma delas com mais de três andares, de tijolo vermelho claro. Cá dentro, a contrastar com os nove, dez graus do exterior, está quente. Viva o aquecimento central e o cuidado que sempre falta em países que se acham sempre quentes, como Portugal. E a fazer par com o tradicional tijolo vermelho exterior, temos a ainda mais tradicional escada interior, com cozinha no rés-do-chão, zona de lazer no andar do meio e quartos no último andar. E sossego, muito sossego, ou não estivéssemos numa zona chamada The Oaks, Os Carvalhos. Amanhã há mais, porque onze da noite em Inglaterra parecem altas horas da madrugada em Lisboa.

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