Tigre da Tasmânia

«Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida» C. Lispector

sexta-feira, dezembro 2

Quase...

Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez,
É a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda,
Que me entristece, Que me mata,
Trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga,
Quem quase passou ainda estuda,
Quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
Nas chances que se perdem por medo,
Nas idéias que nunca saem do papel,
Por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes,
O que nos leva a escolher uma vida morna...
A resposta eu sei de cor,
Está estampada na distância,
Na frieza dos sorrisos,
Na frouxidão dos abraços,
Na indecisão dos "bom dia" quase que sussurrados
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.
A paixão queima,
O amor enlouquece,
O desejo trai,
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor,
Mas não são!

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo,
O mar não teria ondas,
Os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza
O nada não ilumina,
Não inspira,
Não aflige e nem acalma,
Apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Preferir a derrota prévia à dúvida de vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer
Para os erros não há perdão,
Para os fracassos, chance,
Para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque ou que a rotina acomode,
Que o medo impeça de tentar,
Desconfie do destino e acredite em você!
Gaste mais horas realizando que sonhando,
Fazendo que planejando,
Vivendo que esperando,
Porque embora quem quase morre esteja vivo,
Quem quase vive já morreu.


Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino. Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.

Quase, Luiz Fernando Veríssimo

3 Comentários:

Às 8:04 da tarde , Blogger Maria Lagos disse...

Um pouco mais de azul e eu fora a lei....para atingir faltou-me um polpe de asa...

Tomara que os golpes de asa não nos faltem, para que não fiquemos nos QUASES...

 
Às 8:04 da tarde , Blogger Maria Lagos disse...

digo, golpe de asa...

 
Às 5:29 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Um texto profundo do Luiz Fernando, aqui na voz do Pedro.. Deixa-nos questionados.. será que as nossas escolhas são as mais acertadas? será que sequer escolhemos algo?
Eu diria que quase escolhemos.. E a vida tem muito mais sabor assim.
Abraço

 

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